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Saul Sabbá

Finanças, Investimentos, Juros
Dia-a-dia da taxa de juros negativo
2 de agosto de 2016 at 14:26 0

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A dificuldade das pessoas que não são do mercado em compreender o que significa taxa de juros negativa é real, uma vez que somos acostumados a juros exorbitantes e inflação de dois dígitos. As flutuações econômicas que vivemos não nos deu tempo de desenvolver as condições propícias para o sistema de juros negativos, uma realidade em diversos países da zona do euro e no Japão – que nos oferece um dos exemplos mais didáticos do funcionamento da chamada NIRP - taxa de juros negativa, sigla original em inglês.

O último censo no Japão mostrou que a taxa de natalidade diminuiu e o envelhecimento aumentou. Essas informações combinadas demonstram que o país tem dificuldade em aumentar a força de trabalho que paga os gastos públicos com previdência e saúde, além de não ter condições de sustentar as tentativas para reaquecimento da economia. No caso japonês, o Banco Central decidiu cobrar dos bancos comerciais os valores que excedam as reservas legais e os depósitos compulsórios. Teoricamente essa medida aumenta os empréstimos, a circulação de moeda e, consequentemente, a inflação.

O exemplo japonês atinge imediatamente o sistema bancário, mas ainda é necessário ver como isso atinge o correntista. A Suíça é um dos países que vem obtendo sucesso com a adoção dos juros negativos e lá os correntistas do banco BAS, especializado em investimentos sustentáveis e de cunho social, foram avisados que perderiam dinheiro ao deixar as economias na instituição. O que aconteceu no país após o estabelecimento dos juros negativos é que as pessoas começaram a diversificar a forma de guardar o dinheiro, inclusive alugando cofres em bancos a investimentos que tem retorno zero, tudo para não pagar taxas e serviços que compensem os bancos.

As situações vividas pelos moradores de países que utilizam o juro zero parecem surreais para os brasileiros. Desde taxas de apenas 1,1% em transações imobiliárias sem a necessidade de antecipar pagamentos, até receber dinheiro de volta por pagamentos efetuados em hipotecas, são muitos os exemplos. No momento a melhor opção tem sido os empreendimentos imobiliários, o que já chamou a atenção para a criação de uma bolha no setor.

Para o Brasil esta situação poderá ser benéfica pois são muitos trilhões que já estão nestas condições e com certeza parte deste capital poderá chegar até nós. Mesmo que seja uma pequena migalha serão bilhões que poderão desembarcar aqui. Atrás de high yeld, mas primeiro precisamos carimbar o passaporte que começa pela definição do impeachment. Vamos torcer para que o vento sopre na nossa direção.

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Finanças, Investimentos, Política
A Janela de Oportunidade no Brasil
26 de julho de 2016 at 17:59 0
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Diz o ditado que depois da tempestade sempre vem a bonança. Aqui no Brasil ainda não estamos na fase da bonança, mas já podemos ver um horizonte muito promissor. Uma janela de oportunidades que deve ser bem aproveitada por todos.

Apesar dos problemas que ainda enfrentamos, o humor do mercado está mudando e o índice de confiança está subindo cada vez mais. E apesar de não ser uma recuperação real, a percepção dessa confiança traz fluxo de capital externo e melhora a precificação dos ativos, o que pode ser confirmado com as altas consideráveis que alguns setores vem alcançando na Bolsa. Dadas as circunstancias de investimento do ambiente global -  em especial na Europa, com a falta de opções em países de política econômica confiável em razão dos juros negativos e a crise no Oriente Médio - o Brasil oferece mercado não apenas especulativo, mas também para investimento em infraestrutura e setores correlatos.

Uma das vantagens é que ao contrário de outros países que passaram recentemente por crises econômicas, a nossa não foi acompanhada por crise financeira. Passamos por restrição de crédito - dado o alto índice de inadimplência os bancos colocaram o pé no freio e com isso se agravou a crise. O brasileiro também se conteve mais nos chamados gastos “desnecessários”, mas a percepção da confiança já faz com que ele volte a gastar novamente, fazer empréstimos, compras a prazo e investir no sonho da casa própria

Nosso sistema financeiro bem estruturado permite essa recuperação mais rápida. Aqui, a Caixa Econômica Federal resolveu elevar o teto do valor dos imóveis financiáveis e acelerar a aprovação de crédito para pessoas físicas e apenas o esforço em aquecer o setor imobiliário já tem impacto positivo nas previsões do PIB.

A mudança do processo de gestão brasileiro, principalmente com a escolha de dirigentes técnicos para cargos diretivos nas estatais, foi o gatilho para o mercado financeiro repensar investimentos e reestruturação de dívidas do mercado de capitais. A atmosfera otimista se completa aliada ao fato do recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados ter um perfil mais equilibrado, conciliador entre os partidos e com conhecimento da matéria financeira.

A visão dos segmentos no mercado é que o governo interino de Michel Temer tem condições de avançar com, inclusive, projetos impopulares como reforma fiscal e da Previdência. Estamos à espera da finalização do rito do impeachment, o que dará o carimbo necessário para que essas medidas saiam do papel. Essa é a senha que falta para que o fluxo de capitais volte com força para os mercados em geral em busca de surfar a nova onda de oportunidade combinada por gestão mais eficiente e conjuntura econômica global. Apenas aí poderemos dizer que estamos definitivamente fora dessa crise.

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Finanças, Política
Atenção! Consignado é caso de polícia.
18 de julho de 2016 at 16:51 0
Empréstimo consignado

"Bancos suspendem consignado para funcionário público em três estados", diz a chamada de uma reportagem do Jornal Estadão em 16 de julho.

Este modelo de crédito foi criado para ser um dos mais seguros do mercado de crédito pessoal e, por esta razão, se pratica taxas mais baixas do que usualmente são oferecidas no mercado (que vão de 5% até 18% ao mês), girando em torno de 2,3% a  2,7% ao mês.

Por que  esse empréstimo tem uma taxa mais acessível para o tomador?  A resposta seria o baixo risco para os bancos, pois as parcelas são descontadas diretamente em folha de pagamento e, além disso, como mitigador do risco você tem o funcionário público, com maior estabilidade trabalhista.

O que então tem dado errado em uma operação que, em tese, seria considerada (no passado) por quase risco zero por muitas agências de rating? A resposta é simples: a apropriação indébita da prefeitura ou do estado. O estado é responsável fiduciário para fazer o simples repasse do que não lhe pertence, mas se locupleta indevidamente destes valores para custeio geral de suas despesas.

O assunto da reportagem não é novo, nós mesmos aqui no Banco Máxima já tivemos este tipo de crédito com a promessa de que as prefeituras e governos estaduais eram sérios em respeitar os direitos fiduciários dos funcionários. Simplesmente uma balela.

Não funciona assim, pois uma parte das prefeituras e estados deixam os bancos como reféns do sistema, porque não repassam os pagamentos - ou atrasam meses ao seu prazer -, deixando o banco sem alternativa. Se processamos o órgão estado ou prefeitura, os verdadeiros responsáveis pelo desatino de retenção de um direito de cessão fiduciário se escondem na instituição e não na responsabilidade direta das pessoas físicas de serem processadas.

O processo pode durar anos, considerando ainda que os eventos de não repasse acontecem normalmente nas trocas de governos, quando deixam o abacaxi do pagamento e o trâmite judicial para o próximo, como está acontecendo neste momento. Obviamente saímos deste mercado com perdas.

Mas o que me deixa mais inconformado com a situação, é ver que os gestores que praticam este desatino, como se isso fosse normal, não têm noção de como prejudicam e contaminam o sistema como um todo:

  • Os bancos perdem dinheiro com a inadimplência e passam a cobrar taxas mais altas, pelo risco institucional na operação de consignado;
  • O funcionário fica inadimplente e pode ser apontado no Serasa, ficando com o nome sujo, criando um transtorno para novos créditos.

Mais recentemente, nesta última semana tivemos aprovada no Congresso a utilização do FGTS como garantia destes empréstimos. No caso, o empregado é quem dará a garantia, caso o empregador órgão público não repasse o que lhe pertence. Olha que absurdo!

Na realidade o uso do FGTS como garantia é um seguro para o gestor (prefeito ou governador) que, em caso de não cumprir o mandato que lhe foi dado, o próprio funcionário público poderá ter que pagar duas vezes o empréstimo: no caso de o valor não ser repassado pelo órgão público, que o deixará descoberto do seu crédito, além do desconto em folha o Banco poderá sacar diretamente do seu FGTS.

Ficaria mais barato para todos os envolvidos se aprovássemos duras leis de apropriação indébita, como em qualquer país civilizado, onde o cidadão responderia a processos na sua pessoa física, inclusive com alta penalidade financeira. Assim, quem sabe, entenderiam que não podem simplesmente reter o que não lhes pertence.  O pior de tudo é que eles pensam que só os bancos perdem, mas a perda é geral, menos para eles que saem do governo com a mesma cara de pau que entraram.

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Bolsa, Câmbio, Finanças, Investimentos, Política
A relação entre EUA, Europa e Brasil nos investimentos
14 de julho de 2016 at 15:59 0
A relação entre EUA, Europa e Brasil nos investimentos

Para quem não é do meio, fica muito difícil acompanhar os acontecimentos mundiais que impactam as moedas, os investimentos, a Bolsa. Então, decidi fazer um paralelo entre esses assuntos que acontecem ao mesmo tempo e que estão criando expectativas no mercado financeiro do mundo todo.

Nos EUA, se aguarda o resultado das eleições presidenciais que acontecem esse ano. A disputa tem sido cheia de polêmicas, inclusive com discursos extremistas. A cada notícia de força entre os adversários, o mercado reage. Há uma expectativa de que se a Hilary vencer, o mercado terá mais conforto. E se o mercado dos EUA estiver confortável, o resto do mundo é afetado positivamente.

Na Europa, o assunto é o Brexit, que causou uma tempestade de incertezas na zona do Euro. As consequências, com as quedas consecutivas da Bolsa, ainda são uma incógnita aos investidores. As incertezas e a volatilidade do mercado podem causar retração da economia europeia, o que causaria consequências negativas no mundo todo.

Já no Brasil, a expectativa é a consolidação do impeachment. O mercado tem reagido positivamente às posições do governo Temer e sua equipe econômica, com reais expectativas de recuperação, mesmo sabendo que é um processo lento e difícil. A incerteza que paralisa é a dúvida se a presidente afastada retorna ou não ao comando do país.

Como podemos observar, a política afeta a economia em todos esses cenários. E, em qualquer dos ambientes, o que precisamos para que voltem os investimentos é de solução, conclusão, definição. A partir da definição de todos esses assuntos é que começaremos a ver os resultados.

Ao Brasil interessa tanto a estabilidade interna quanto externa, pois isso tem reflexo direto nas exportações. Em um país com câmbio elevado como agora, a exportação é uma ferramenta importantíssima para captação de recursos e equilíbrio da balança comercial.

Para se ter ideia, só nas duas primeiras semanas de julho, a balança comercial teve um superávit de US$ 1,48 bilhões (fonte: MDIC). As exportações têm tido uma média diária de mais de 800 milhões de dólares, o que significa aumento de 2,9% em relação a 2015. Já as importações tiveram um recuo de 17,2%.

Hoje tivemos a notícia de que o PIB de maio teve um tombo em relação ao mês anterior. A queda do PIB em relação ao ano passado é de 3,8%, caracterizando a forte recessão: desemprego, inadimplência, queda de consumo e produção. E, como nosso mercado interno não está aquecido, nossas indústrias têm se mobilizado para atender o mercado externo. A estabilidade americana e europeia são essenciais para continuarmos vendendo e, consequentemente, administrando a crise e trabalhando para reconstruir a nação.

Como podemos ver, no mercado de investimentos não há independência. Os três assuntos são relevantes para a relação de fluxo de capitais no Brasil.

Resumindo, a eleição de Donald Trump significa para os EUA o mesmo impacto que o Brexit tem para os europeus e a volta de Dilma para o Brasil. Espero que não tenhamos uma pororoca tríplice, seria uma catástrofe. Que Deus nos abençoe. Amém!

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Finanças, Investimentos, Política
A nova meta fiscal e os bons ventos
8 de julho de 2016 at 15:58 0

meta fiscal

Ontem o mercado passou o dia na expectativa do anúncio da nova meta fiscal para 2017. Entre tantos acontecimentos, incluindo a renúncia do Eduardo Cunha da presidência da Câmara, tivemos enfim uma notícia animadora.

A equipe econômica do governo fixou a meta em um déficit de R$ 143 bi, que dependerá de um esforço grande para ser atingida. O simples fato dela ser menor que os R$ 170 bi de 2016 já nos causa um bom presságio de que as providências necessárias estão sendo tomadas.

O Ministro anunciou austeridade. A possibilidade de venda de ativos, concessões e outorgas, mais uma economia verdadeira nos gastos públicos traz ao mercado a confiança de que estamos no caminho da recuperação.

O déficit anunciado ainda é preocupante, porém se continuássemos no caminho do governo da presidente afastada, o déficit poderia chegar a R$ 270 bi.

Hoje uma outra notícia animadora foi a desaceleração da inflação, que começa a ir no caminho da meta estimada.

Portanto, se o governo continuar tendo vitórias sobre o núcleo político do Congresso, teremos a aprovação do Projeto de Lei Orçamentária em agosto. O receio de que fossem criados novos tributos ainda assombra a atividade econômica, mas o bom senso demonstrado pelo Ministro e sua equipe nos dá confiança de que não seremos taxados com novos tributos sem necessidade.

Avaliando a realidade e contando que o Congresso, debaixo dos olhos da população atenta, aprove as medidas necessárias, fecho esse artigo com a fala do Ministro Meirelles que é positiva e aponta que o Brasil está realmente na tendência do crescimento real:

“Estamos trabalhando para que possamos gerar um pequeno superávit em 2019. Existe a expectativa que, com a evolução desse quadro extremamente favorável das despesas do setor público e da evolução da confiança e do crescimento, acredito que é provável que já possamos mostrar o país com um superávit no ano de 2019”.

É mais importante que o mercado veja esse quadro de forma positiva, a fim de seguirmos nesta trajetória e recuperarmos o nosso país.

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Bolsa, Câmbio, Finanças, Investimentos, Juros, Política
O país parado à espera do rito do impeachment
13 de junho de 2016 at 13:43 0
rito do impeachment

A situação política e econômica parecia estar definida, aparentemente. Mas uma série de acontecimentos mantém o governo interino como refém do rito do impeachment. As novas gravações e delações, agora contra o PMDB e o PSDB, colocam as definições e decisões em um campo minado a fim de não contrariar a base, pois o placar está apertado no Senado.

Imaginamos que enquanto enquanto persistir a dúvida do rito se efetivar, o balcão de barganhas no Senado vai ganhando corpo e impactando a confiança das pessoas, principalmente investidores.

Apesar da baixa probabilidade, caso ocorra a não definição do governo Temer e volta da Dilma, fica a dúvida de como seria um "day after" da governabilidade neste cenário. Seria impactante para todos, com as cenas política e econômica totalmente imprevisíveis. Haveria uma grande possibilidade de nova eleição. Mas será que o país aguentaria trocas de ministérios novamente? Um grande caos.

A crise econômica chegou e formou consistência. Nas ruas basta observar os shoppings, restaurantes, bares, estradas e o medo do desemprego que começa a rondar todas atividades afetadas pelo baixo consumo. Não é sem razão que o governo já percebeu que precisa fechar este assunto do impeachment, pois as medidas econômicas mais duras acabam sendo adiadas em função da fragilidade política e da vulnerabilidade do atual governo em ter de agradar a todos partidos de apoio.

Do outro lado, persiste uma expectativa de apoio relativo da população que gritou "fora PT" mas não deu carta branca ao novo governo, pois a bandeira principal foi o "chega de corrupção”. Quanto mais o atual presidente cede aos partidos, mais frágil fica a governabilidade perante o povo brasileiro.

Após a última reunião do Copom mantendo a taxa de juros nos patamares atuais e a inflação ainda resiliente, mesmo com a brutal queda de consumo, a indexação se mantém viva e pode adiar a queda dos juros tão aguardada. Mas a curva futura, que é um eixo principal de um BC com credibilidade junto ao mercado, já poderá dar ao  governo Temer um cenário de maior expectativa otimista - muito mais pela escolha da equipe econômica, com a liderança do Meirelles.  As expectativas inflacionárias futuras advirão com fortalecimento da confiança e credibilidade delegada à condução da política monetária sem interferências de viés partidário na economia.

Isto é o que o mercado entendeu e é o voto que o presidente atual recebeu com as taxas futuras vindo para patamares mais aceitáveis. O  primeiro speech do novo presidente do BC mostrou que o dólar reagiu para baixo, com a sinalização da volta da flutuação cambial. Com menos intervenção por parte do BC, sem dúvida o dólar poderá ser um aliado em ajudar a trazer a inflação a patamares aceitáveis.

Apesar desta seleção de quadros altamente qualificados na área econômica, vamos ter de conviver com uma grande incerteza até a finalização do rito do impeachment. O andamento e os últimos acontecimentos da Lava Jato, nos deram mostras de que vem muito mais por aí, pois ainda faltam delações importantes como a do próprio Marcelo Odebrecht e do tesoureiro do PT.

Só se ganha a guerra quando esta termina, sempre foi assim e o Presidente atual Michel Temer sabe disso.

Acredito assim que, apesar da complexidade atual do cenário econômico e político, devemos trabalhar com um viés otimista e nos mantermos atentos aos eventos que poderão influir na consolidação do rito ou não. Não podemos perder a confiança na nossa capacidade de reagir, tanto nos negócios como na nossa vida pessoal. Como diz a velha sabedoria, caminhar em tempos difíceis fortalece a alma, e devemos sempre estar caminhando. É isso que aconteceu nas grandes crises mundiais: sobreviver para poder prosperar.

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Finanças, Política
Melhoram as previsões para a economia brasileira
6 de junho de 2016 at 17:48 0

Previsões para a economia brasileira

O Boletim Focus desta segunda-feira muda um pouco as perspectivas para a economia brasileira. Apesar de ainda contarmos com a inflação, os preços e os juros tendem a baixar, segundo as análises apresentadas.

As famílias brasileiras somente sentirão os efeitos de melhora, caso as previsões se concretizem, ao longo de 2017.

Enquanto isso, a nossa situação política ainda poderá nos surpreender muitas vezes positiva ou negativamente. Afinal, a nova gestão econômica do governo federal foca no investimento estrangeiro, tentando recuperar a confiança e a fatia que perdemos. O otimismo no momento está nas nossas exportações, que seguem fortes em algumas áreas como, por exemplo, a agropecuária.

A sociedade brasileira e todo mercado mundial aguardam as ações do governo para fazer os ajustes necessários. Apesar de o boletim Focus de hoje melhorar as perspectivas para até 2017, um aumento de carga tributária seria muito mal recebido por todos.

É necessário que o governo aperte mais ainda os cintos das contas públicas, que haja uma revisão verdadeira e congelamento de despesas, senão o que vai sobrar são as medidas impopulares, que causarão comoção e protestos. Isso certamente nos fará voltar à montanha-russa da desconfiança.

Acredito que os anúncios positivos da última semana, que fizeram o presidente sofrer muita pressão e recuar, deverão ser repensados e retomados.

O Brasil deve fazer o que for necessário para ajustar a nossa economia e voltarmos a crescer. Não é simples, mas é possível, caso sejamos firmes na aprovação das medidas de controle das contas públicas.

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Finanças, Política
As medidas econômicas e a crise política
25 de maio de 2016 at 13:53 0

medidas econômicas

Ontem foi um dia importante para a economia brasileira. Após dias de expectativa, a nova equipe econômica anunciou algumas propostas.

O presidente Michel Temer se reuniu com os líderes de partidos aliados e anunciou algumas medidas. Antes de comentar tais medidas, gostaria de atentar para a questão política deste ato. Pedindo união e dando prioridade das informações ao parlamento, está clara a tentativa de melhora no relacionamento político. Ele pede união e é isso mesmo que o país precisa.

Percebemos que há um movimento claro do governo para planejar a recuperação da economia brasileira em longo prazo. A intenção é que estejamos em melhor momento para as eleições de 2018, deixando os cofres mais equilibrados para a nova gestão que virá. Talvez por isso, não houve anúncio de medidas drásticas como grandes cortes ou novos impostos, que possam trazer algum efeito imediato.

O mais significativo para melhorar o saldo, foi o anúncio do pagamento de R$ 100 bilhões da dívida do BNDES com o Tesouro Nacional. Esse pagamento, segundo as contas da equipe, traria uma economia ao TN de R$ 7 bi ao ano. É bom explicarmos que o governo anterior repassou ao BNDES, para um programa chamado “Sustentação do Investimento”, muito mais do que era necessário. Isso causou uma dívida imensa, com o efeito contrário: investimento caiu, em vez de aumentar. O dinheiro ficou parado e o prejuízo era certo. Achei boa essa medida, mas ainda depende de avaliação jurídica.

Não vou citar aqui todas as medidas tomadas pois os jornais nos apresentam detalhadamente. Quero passar aos meus leitores o meu sentimento a respeito dos encaminhamentos dessa nova equipe. Acredito que essa trajetória com planejamento a longo prazo poderá trazer novamente a confiança aos consumidores, às empresas e investidores para que o país volte a funcionar.

Todos sabemos que o Brasil precisa gerar receita em curtíssimo prazo e, para isso, devemos esperar algum pacote que seja duro. Mas a sinalização de irmos pelo caminho das concessões, privatizações e PPPs (investimento privado), parece ser bem racional para uma recuperação de caixa. Passa credibilidade, que foi a nossa maior perda dos últimos anos.

A equipe descreveu propostas e objetivos. Mas a decisão mais importante é a definição do teto para os gastos públicos. A pretensão é que ele nunca cresça acima da inflação anual. Isso por si, já corta as despesas públicas na carne, apesar do desafio maior ser a dificuldade em aprovar no Congresso. Se for aprovado terá um impacto grande, dentro de 3 anos, em até 2 pontos percentuais do PIB. Isso significa em números de hoje um corte de R$ 120 bilhões nas despesas do governo. Essa solução cria uma reação em cadeia: com o país crescendo, a dívida pública tende a diminuir cada vez mais.

Ainda temos a crise Romero Jucá que, sem dúvida, contribui para alvoroçar a oposição esquerdista e petista, tumultuando e agravando a incerteza política. O governo precisa de um novo nome para o Ministério do Planejamento. Já deu para ver que a conciliação dos interesses será o maior desafio do governo Temer, pois está difícil conseguir nomes que não estejam envolvidos na Lava Jato.

Depois da noite tumultuada, que aprovou a nova meta fiscal com rombo de R$ 170 bi nos cofres, o que podemos prever é que a crise política vai continuar em alta temperatura.

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Investimentos, Política
A cara do novo governo
18 de maio de 2016 at 14:06 0
equipe econômica

O criterioso processo de escolha da nova equipe econômica do governo foi baseado na meritocracia. A escolha do Ilan Goldfajn para presidir o BC não foi nenhuma surpresa, assim como o anúncio da Maria Silvia para o BNDES também constituiu uma boa escolha, além de outras, todas baseadas no conhecimento técnico e experiência institucional que, sem dúvida, é muito importante no momento.

As escolhas para equipe econômica não poderiam ser melhores e dão um cacife de peso contra os torcedores do caos ou mesmo pessoas mais míopes que têm dificuldade proposital em enxergar que a política populista, em décadas, não teve nenhuma efetividade prática de tirar pessoas da pobreza como alardeiam.

Dar somente Bolsa Família ou casa para as pessoas não é nenhuma grande virtude. Se fosse assim, poderíamos também distribuir dinheiro para os necessitados jogando  de cima de um helicóptero e também estaríamos fazendo um bem social. Na visão deles, se jogássemos dinheiro de helicópteros nas favelas seria socialmente correto.

O mais relevante que estes governos populistas poderiam fazer para tirar as pessoas da miséria não seria distribuir dinheiro e sim colocá-las no mercado de trabalho e dar condições educacionais para que saiam da pobreza de um modo mais nobre e digno, dando condições profissionais de concorrer no mercado de trabalho.

Assim, reconstruir a credibilidade começa por uma boa equipe econômica. Num momento de transição pode-se até errar nas escolhas de alguns ministérios, mas não nesta formatação e âncora que devolverão a credibilidade ao país, fazendo com que volte a confiança e em seguida o investimento. A moeda da credibilidade na economia, sem dúvida, vem lastreada pelas escolhas e coesão. Pode até dar errado, mas sem esse primeiro passo nada acontece em seguida.

A Presidente Dilma optou por seguir a linha de atuação que pudesse agradar um pouco ao PT e a alguns setores da economia, mas não gerou credibilidade suficiente para que a confiança retornasse e o governo foi se esfacelando em todos os quesitos econômicos.

Por fim, para entendimento das pessoas que têm menos intimidade com os jargões econômicos, é bom compreender que a equipe econômica é o centro de todo governo. Basta olhar para o recente episódio do impeachment. A Dilma caiu pelas mazelas econômicas e consequentemente pela deteriorização da economia: desemprego, crescimento negativo e  tudo mais que sabemos. Ninguém cai com a economia dando resultado, com ou sem pedalada. Dilma caiu porque se não caísse a continuidade da política econômica desastrosa acabaria com as contas públicas do país e tomaríamos um caminho como o da Venezuela, sem volta, pois aqui nós temos bastante alavancagem nos mercados.

O inverso vale para o Temer, pois se ele errar na economia também não chega ao fim de governo. Por isso ele trouxe os melhores e não poderia ter escolhido melhor nome do que o Meirelles, que tem o viés econômico e o político, diferenciando-se de outros técnicos economistas.

Boa sorte ao Brasil. Que tudo corra como acreditamos e torcemos: com responsabilidade, técnica e muito trabalho.

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Câmbio, Finanças, Investimentos, Política
Todos podemos ser Venezuela
3 de maio de 2016 at 14:57 0
Venezuela

Tornar-se um exemplo é sempre uma honra e um risco. O Brasil foi, durante anos, exemplo de economia em desenvolvimento acelerado. Hoje, estamos numa crise. Mas meu artigo de hoje fala da Venezuela, como um exemplo a se observar.

A Venezuela é exemplo de caos econômico e social na América Latina. Se fala muito sobre o descontrole monetário venezuelano e também sobre a crise energética e telefônica em nosso vizinho. A distância entre a realidade da Venezuelana e a nossa, dos argentinos, equatorianos e bolivianos é diferente, mas é inegável que todos podem, potencialmente, acordar no pesadelo do presidente Maduro caso uma política populista continue desvalorizando as nossas moedas.

Não quero neste artigo abordar todos os aspectos da crise na Venezuela. Falarei apenas sobre a hiperinflação que desgasta o Bolívar Venezuelano, a moeda em vigência no país desde 1879.

A hiperinflação é, como o próprio nome diz, uma situação inflacionária elevada à enésima potência. A inflação, embora tenha um nome ruim, não é de todo nociva para uma economia. O contrário da inflação é a deflação, que é quando os preços caem, o que faz com que os salários também diminuam. Uma taxa de inflação baixa, de até 5%, é boa para a economia, pois acaba fazendo com que preços e remunerações subam e possam se equilibrar, o que desenvolve a economia. O problema é quando esse pequeno dragão foge do controle e o poder aquisitivo do povo é afetado. Com o aumento consecutivo de preços, o governo acaba recorrendo à impressão de dinheiro para colocar moeda em circulação. Isso acorda uma lei inexorável do capitalismo, que é a da oferta e procura. Quando se tem muito mais dinheiro na rua do que o ideal, o valor real das cédulas diminui. Em ritmo acelerado, essa inflação fora de controle se transforma em hiperinflação, que é quando nem a população e nem o próprio governo conseguem acompanhar o ritmo do aumento dos preços.

No caso da Venezuela, é seguro dizer que a hiperinflação é consequência direta do descontrole absoluto de um sistema financeiro que, focado em fazer política, não protegeu a moeda, que é o maior patrimônio de um país. Uma moeda forte para o Estado é como a reputação para um indivíduo. Nos tempos modernos, o controle do sistema financeiro de um país está ancorado, principalmente, na credibilidade e confiança dos orçamentos públicos. A moeda venezuelana está tão desvalorizada que nem a própria população faz questão de tê-la, preferindo moedas de outros países, mais confiáveis e com câmbio mais seguro.

Com a queda do petróleo que era responsável por 96% de sua economia e sem uma fonte alternativa de receita, o governo da Venezuela recorreu a um financiamento mortal para qualquer governo: ele mesmo. Criou-se então a armadilha do dinheiro gratuito, que é a impressão de novas cédulas. A demanda da Casa da Moeda venezuelana foi tão grande, que as impressoras venezuelanas não possuem mais papel para impressão. Impossibilitada de fazer a irresponsabilidade “in house”, o governo importou trinta aviões 747 carregados com pelo menos cinco bilhões cédulas impressas na Colômbia. Sem dinheiro, a Venezuela pagou pelo serviço esgotando suas reservas internacionais de dólar e de ouro. Finalmente sem caixa e alternativa, a impressão de moedas para o país está parada.

Em 2014 um dólar custava 200 bolívares no mercado paralelo. Em 2015, um dólar custava mais de 1000 bolívares, o que significa uma desvalorização da moeda de mais de 80% em um ano, mas organismos internacionais estimam uma inflação de mais de 700% ao ano. A impressão de notas sem lastro para bancar o dinheiro em circulação é uma das causas desse descontrole. Para se ter ideia, segundo o banco central venezuelano, a quantidade de cédulas de papel que circulam na Venezuela quadruplicaram em um período de 2 anos.

Sem ter como corrigir a inflação de forma técnica, o governo implantou um rígido controle de preços. Ao invés de resolver o problema, o governo obrigou a população adquirir esses bens no mercado negro: desde itens de manutenção de carros, até papel higiênico. Para comprar qualquer coisa, o cidadão tem de andar com pilhas de dinheiro vivo.

Não bastasse esse beco sem saída monetário, o país agora passa por uma crise energética que obrigou a população a um racionamento cruel de energia: as famílias ficam pelo menos 4 horas por dia sem luz. Os serviços públicos agora não funcionam durante 5 dias por semana. A energia é requisito estrutural obrigatório no desenvolvimento e o blackout, além de representar um sério risco humanitário, comprometendo a conservação de alimentos e também a prestação de serviço médico, paralisa comércios e indústrias, o que retrairá ainda mais a economia do país.

Entre a morte de Hugo Chávez e a posse de Maduro, a moeda venezuelana perdeu cerca de 98% do seu valor no mercado paralelo. Engana-se, entretanto, quem acha que isso tudo é culpa do novo presidente. Não, ele herdou uma gestão ruim e continuou seus erros. Com isso, o apoio popular ao governo caiu e, com a queda do apoio, o regime bolivariano está mais rígido e autoritário. Sem um jurídico confiável e com um parlamento beligerante, o clima dentro do país não é propício para investimentos, algo tão necessário para se pensar em recuperação da economia.

A situação venezuelana é o resultado óbvio de um país que tenta reger sua economia por decretos, e não com ações e planejamento. As intervenções no mercado, o controle no câmbio, a limitação da lucratividade, a nacionalização de empresas, e outros fatores, causaram o fechamento de empresas, o desemprego generalizado e a fuga de investidores internacionais. Some a isso tudo os gastos muito além da arrecadação e ao encolhimento da economia em 5,7% em 2015 e 8% este ano, segundo o FMI.

Chávez sonhava em transformar a Venezuela em um exemplo social para a América Latina. As recorrentes violações humanitárias e os erros primários na economia fizeram o contrário. Transformaram uma nação que nadava em petrodólares em o primeiro país do mundo a não ter dinheiro para imprimir dinheiro. Isso é um país com hiperinflação.

Precisamos atentar ao exemplo da Venezuela para sabermos que um país próspero e justo para seus cidadãos depende de uma boa gestão política e econômica, com independência das instituições e transparência para a população. Ninguém quer ser uma Venezuela, mas todos podemos ser se não nos interessarmos em conhecer como funcionam os governos e cobrar deles, no mínimo, responsabilidade na gestão do nosso dinheiro.

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