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Política
O baralho eleitoral do Brasil e o cenário possível durante eleições
23 de abril de 2018 at 17:21 0

Uma eleição é como um jogo de baralho. No certame presidencial brasileiro deste ano, a partida será jogada com diversos "decks" de cartas. O quadro eleitoral é incerto graças às complicações jurídicas vividas pelos partidos, pela nova legislação eleitoral e o número de candidatos novos, que oxigenam a disputa.

Do ponto de vista econômico, as novas regras de financiamento de campanha trazem mudanças importantes. Além da imposição de um limite de gastos às campanhas, há também restrição de quem pode fazer as doações e até como as campanhas de televisão podem ser feitas. 

A coisa complica também quando se olha o lado humano. A inviabilização de candidatos tradicionais e consolidados, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e os senadores Aécio Neves e José Serra, abre caminho para a entrada de novos atores à cena. São candidatos que representam uma multitude de espectros políticos, da esquerda à extrema-direita. Essa pluralidade de candidatos torna a eleição mais complexa, já que haverá muita mudança de intenção de votos entre candidatos do mesmo espectro político.

Tendo em vista este cenário, podemos empregar uma análise lógica. Não considerarei a candidatura de Lula, já que a tendência é que ele permaneça inelegível, o que torna a análise mais complexa, já que caso Lula concorresse, seria natural que todos os candidatos se alinhassem contra ele. Sem o ex-presidente o confronto será de todos contra todos. E isso adiciona um novo conjunto de cartas ao baralho.

Existem duas grandes forças em disputa: de um lado a esquerda e centro, e do outro a direita. 

Na centro-esquerda o destaque é Geraldo Alckmin, que oferece ao eleitor um currículo eleitoral com 14 anos de mandato como governador de São Paulo. A complexidade do maior estado da federação, e também a riqueza dele, dão solidez à campanha no quesito realizações e conquistas. Destaca-se a questão da segurança pública, como abordei no artigo anterior, a realização de obras e a administração do orçamento. Em comparação com os outros estados, São Paulo se saiu bem na crise econômica de 2014. Alckmin já disputou o cargo em 2006, o que lhe trará recall. Além disso, ele terá dois candidatos ao governo em São Paulo puxando voto para sua candidatura: Márcio França e João Dória. 

Apesar desses pontos a favor, Alckmin ainda não decolou nas pesquisas. Pesa também o aumento da rejeição ao partido devido às acusações contra Aécio Neves, embora Alckmin tenha passado ileso pela Lava-Jato.

Os demais candidatos do bloco que à esquerda ainda não decolaram, estão atualmente tentando tornar suas candidaturas viáveis. Entre eles encontram-se personalidades sem cunho partidário, mas com poder de conquista em segmentos diversos da sociedade, como o ex-ministro Joaquim Barbosa e o empresário Flávio Rocha. Ciro Gomes e Marina Silva, por exemplo, ainda não se posicionaram nacionalmente como candidatos. Além disso, a presença de dois candidatos de renome na esquerda pode acabar esvaziando as urnas dos dois.

A grande incógnita será a postura do Partido dos Trabalhadores nesta eleição. Jacques Wagner e Fernando Haddad, dois nomes ventilados pelo partido, não conseguem sequer atrair o voto do ex-presidente Lula. Com seu principal candidato inviabilizado, o PT terá como missão manter o cacife eleitoral da legenda, essencial na negociação de alianças. As cartas nos naipes do primeiro bloco, de esquerda e centro, estão se movimentando tentando abocanhar parte do eleitorado petista, órfão de um candidato viável.

No lado à direita do campo, Jair Bolsonaro enfrenta um problema oposto ao de Geraldo Alckmin. Sobra ao deputado carisma e intenção de voto, mas falta conteúdo administrativo e de gestão, já que Bolsonaro nunca ocupou nenhum cargo executivo. A inexistência de bandeiras é um dos principais problemas de Bolsonaro, que perde credibilidade eleitoral junto ao eleitor com maior índice de escolaridade e renda, parte importante do voto avesso à esquerda. 

Com a prisão de Lula e a entrada de novos candidatos no jogo, o candidato do PSL tem como maior desafio a consolidação do voto que, aparentemente, já é seu. Mesmo com todos esses poréns, Bolsonaro já é um candidato viável e estabelecido, ao contrário de boa parte dos pré-candidatos que aventaram candidatura. No pior dos cenários, Jair Bolsonaro é forte candidato ao segundo turno, algo ainda distante a grande parte dos outros candidatos.

Contra tudo e contra todos, entretanto, restam as “Fake News”, que devem dominar o cenário graças à leniência da legislação brasileira, que falha em coibir e punir veículos que divulgam notícias falsas, caluniosas ou tendenciosas. Jair Bolsonaro, por ser polêmico, deve ser uma possível vítima desse expediente, além de outros candidatos que se aventurem por temas mais polêmicos.

O candidato que se posicionar ao centro terá vantagem na disputa, basta para isso uma melhora no da economia. O número chave é 2,5% de crescimento do PIB. A história e as estatísticas mostram que o discurso do centro ganha adesão com melhor ambiente econômico, enquanto a direita e a esquerda dependem de um cenário econômico ruim para ganhar força. São os votos da mudança e, se está bom para todos, a mudança deixa de ser atrativa.

A partida de baralho está apenas começando, e quanto mais tentamos enxergar a mesa, mais embaralhadas e confusas ficarão as cartas. É preciso esperar que as cartas sejam jogadas, dentro e fora do baralho, para que possamos ver, de antemão, qual surpresa nos aguarda nesta eleição.

Será um verdadeiro jogo de cartas.

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