X

mudança

Política
Entre o desejo e a realidade
23 de agosto de 2018 at 11:07 0

Entramos a campanha eleitoral agora em Agosto, com os candidatos 90% definidos e a dura realidade de uma eleição sem cara e sem cor. Não é uma eleição vermelha ou amarela, nem azul ou verde, temos uma verdadeira salada mista. Coligações improváveis ou mesmo tradicionais por pura conveniência eleitoral. Nesse último caso, o cenário mudou pouco.

Parece que a vontade e desejo de uma grande mudança de tudo que temos visto em política nos últimos anos é predominante. Talvez porque o sentimento da grande maioria é de que existe falta de opções políticas de renovação com um conceito mais ético, principalmente fora dos padrões do atual de governo e do anterior . As últimas pesquisas mostram que o desejo de mudança tem atraído uma parte considerável dos eleitores, principalmente quando vemos o candidato do nanico partido de Bolsonaro representar este sentimento na sua essência. Sem dúvida a intenção de voto em Bolsonaro é o mais puro e claro sinal desta vontade de mudar. A diferença entre o desejo e a realidade é sempre cruel e existe um paradoxo entre ambos. A nossa infeliz realidade é que o Brasil criou um sistema, tanto político quanto social e estrutural que funciona com grande ineficiência em quase todas áreas: saúde, educação e segurança pública.

A chamada “O país que quero” que a rede Globo fez por todo Brasil em rede nacional explica um pouco deste sentimento e todos desejos pretendidos são sempre no mesmo tom. “Eu desejo um país que não tenha corrupção e tenhamos políticos honestos. Desejo que os hospitais tenham um atendimento mínimo e humanizado para a população. Desejo que tenhamos uma melhor distribuição de renda. Desejo que tenhamos um mínimo de segurança aceitável dentro dos padrões social”.

O cerne da questão é que não encontramos um político que preencha todas as nossas aspirações. Que não pratique o tão conhecido “toma lá, dá cá” e tenha capacidade administrativa e gerencial para montar uma equipe de alto nível e de altos padrões éticos. Ainda é importante não retroceder em situações já superadas, tanto no campo econômico quanto no campo político e trabalhista. Retomar esses debates não favorece o país e pode representar perdas que irão demorar décadas para serem recuperadas, bem como arriscar a baixa inflação e juros baixos. Já tivemos essa experiência em alguns estados e o Rio de Janeiro é o exemplo mais evidente do que estamos falando. Na última eleição para prefeito, Marcelo Crivella foi o vencedor e o resultado ficou muito pior que se imaginava com o Rio entregue à total inoperância da máquina. É o velho ditado se concretizando: está ruim, mas pode ficar muito pior. Sob o governo de Sérgio Cabral e Crivella, o Rio voltou uma década em muitas áreas, principalmente na questão da segurança pública e, no caso do Crivella, a volta do comércio sem lei nas ruas.

É por isto que devemos atentar e evitar escolhas embasadas mais pelo descontentamento do que na busca da virtude do candidato.

Vamos aos candidatos.

Desejo que Bolsonaro acabe com a criminalidade desenfreada, investindo e priorizando a polícia e o programa de ressocialização carcerária. A pergunta correta é: como fazer e de que forma priorizar o pouco orçamento disponível? Ao candidato Geraldo Alckmin, perguntaria como vamos finalizar as centenas de obras de infraestrutura que estão inacabadas e geram um enorme prejuízo para o país? Vimos no passado a criação de programas e liberação de recursos com a promessa da criação de novos empregos. A realidade foi a perda de recursos públicos por falta e empenho governamental e de bancos federais.

São perguntas objetivas que não podem ter respostas vagas. Servem para avaliar a melhor a estratégia e a convicção de realizar do candidato, sem perder de vista seus desejos e a realidade do cenário político brasileiro.

Cada vez mais, está se diminuindo o tempo e o espaço para promessas simplesmente populistas: vou acabar com a fome no país, vou dar moradia decente para os nossos cidadãos, vou resolver e vou fazer. O povo hoje já tem muito mais capacidade de avaliar as promessas. Temos quase um celular por habitante e isto gera informação. Estes dois exemplos são a essência do título deste artigo. Entre o desejo e a realidade. Poderíamos perguntar a todos os outros candidatos que tem o mesmo discurso o que eles desejam. A dura realidade, entretanto, é que possivelmente teremos uma alta renovação do Congresso Nacional, segundo as pesquisas e nesse ponto começa o maior problema do novo Executivo que será eleito este ano. Não existe governabilidade sem a bênção do legislativo. A história mostra que governar sem o apoio do centro, no caso PMDB, é pura ficção, haja visto o que aconteceu com os ex-presidentes Collor e Dilma que, órfãos de apoio na Câmara, foram retirados dos cargos via impeachment principalmente por contrariar os desejos do Congresso. O mesmo acontece agora com o atual presidente, que chegou a ensaiar a reforma da Previdência e foi dado um sonoro não a ele pelo Legislativo.

Se realmente queremos mudança, o foco deve ser na base legislativa, pois é de lá que irão acontecer as principais mudanças. Acredito fielmente que a figura de um Don Quixote e seu escudeiro não mudarão efetivamente nada, por maior que seja o desejo de todos. É necessário um governo mais forte e com mais coligações partidárias para aprovar profundas reformas.

Acreditar que presidentes controlam corrupção é acreditar em história da carochinha e, se fosse assim, o PT teria conseguido controlar alguma coisa neste sentido. As instituições são autocontroladas por meio de normativos independentes, como vem acontecendo agora através das instituições democráticas. Por isto me causa estranheza tanta gente culta enaltecendo determinados candidatos que seriam “da mudança”. Faço a pergunta: mudança de quê?

Espero que tenham razão, pois este também é meu desejo, mas, como disse no início, pode ser mais desejo do que realidade este profundo desejo de mudança.

Leia mais
Finanças, Política
Levy por Meirelles: A troca de ministros vai consertar nossa economia?
12 de novembro de 2015 at 16:09 0

troca Levy por Meirelles

Quando Joaquim Levy assumiu o Ministério da Fazenda, tentou explicar à sociedade muitos pontos errados na condução do país, em uma tentativa de educar e despertar o interesse da população pela funcionalidade complexa do “economês”. O Brasil é um caso complexo para qualquer administrador, pois nossa política é uma arena onde partidos medem forças constantemente e a população paga um preço alto por isso.

Não bastasse a dificuldade cotidiana enfrentada pela equipe econômica e pelo governo, há agora um boato de que, sob pressão, a presidente Dilma deveria trocar o Ministro Joaquim Levy, que não consegue a aprovação de suas propostas para o ajuste fiscal, pelo ex-presidente do Banco Central, o Henrique Meirelles. Esse boato circulado ontem foi o responsável pela queda do dólar, pois o mercado acredita que a entrada de Meirelles pode melhorar a comunicação entre o governo e o Congresso, para que os ajustes sejam feitos. Uma parte da crise no Brasil se deve ao governo falar A, o Congresso entender B e a população querer C. Não há consenso e nem bom trânsito.

Embora neguem o que circula à boca pequena, há quem diga que Henrique Meirelles está fazendo exigências para aceitar o cargo. Segundo notícias, ele pede autonomia com “porteira fechada”, ou seja: total controle para determinar trocas importantes, como a presidência do Banco Central e o ministro do planejamento. Analisando a troca, não podemos esquecer que foi Meirelles quem aqueceu a política de incentivo ao crédito e ao consumo que levou o país à condição atual. Acredito também que não há nada que ele possa propor de muito diferente do que o Levy está propondo. A questão da possível troca deve estar se apegando, talvez, numa facilidade maior de Meirelles se comunicar e se articular no Congresso, onde sempre teve bom trânsito.

No meio da confusão econômica, há a insistência na guerrilha política, cheia de boatos e indecisões, que prejudicam as finanças do país e da população, que não pode esperar nada além do aumento de tributos para o equilíbrio das contas. Mais do mesmo.

Indo direto ao ponto, a questão da nossa crise fiscal é profunda. Não basta trocar o técnico, precisamos enxergar além disso. A Constituição de 1988 deixou uma brecha fiscal que estourou agora. Houve uma centralização das receitas na União e ela passou a repassar recursos para estados e municípios. Isso, além de tornar menos eficiente o processo arrecadatório deu enorme poder à União. À época, a capacidade de investimento era de 5% do PIB e hoje gira em torno de algo como 2,5%. Criou-se uma série de vinculações orçamentárias que engessou o poder de distribuição dos recursos. Desde 1988 todos os governos, sem exceção, aumentaram seus gastos. Hoje vemos todos os estados dependentes da União, sofrendo prejuízos e endividados.

Precisamos pedir que os nossos parlamentares revejam a Constituição, além de emergencialmente fazerem uma trégua política, pois em um campo esburacado nenhum dos times pode jogar futebol.

Leia mais