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Michel Temer

Outros assuntos, Política
Brasil e Estados Unidos: o desafio da governabilidade
8 de abril de 2017 at 18:40 0
2017-04-08

Trump e Temer passam por momentos políticos conturbados, criados principalmente pela agressividade do processo eleitoral que envolveu a chegada de ambos ao poder. Por aqui tivemos um penoso e demorado processo de impeachment, agravado por denúncias e investigações que escancaram a corrupção estrutural em nosso país. O impeachment foi necessário para que se desentravassem as pautas e trouxesse de volta a confiança dos mercados, entretanto deixou sua marca. A reputação de nossas instituições está enfraquecida diante da opinião pública e, apesar dos investidores verem com bons olhos as mudanças que estão sendo implementadas, a insegurança da população em relação à parcela política brasileira é real e comentada diariamente nas ruas, e isso respinga no governo Temer.

Já ao norte do Equador, os Estados Unidos passaram por uma das eleições mais controversas dos últimos tempos. Além das prévias agitadas, com acusações de espionagem russa e sabotagem eleitoral, a ida às urnas também deixou o país com os nervos à flor da pele. Com a economia oscilando, ainda resquício da crise de 2007, os americanos apostaram na figura polêmica de Donald Trump em detrimento de Hillary Clinton. Em uma eleição disputada e vendida como uma luta do novo contra o velho, a promessa do empresário em “Make America Great Again!” conquistou os votos e garantiu a vitória em um dos sistemas eleitorais mais complexos do mundo. Com esses contextos em mente, era de se esperar que a governabilidade de Temer, acusado de golpe, fosse pior que a de Trump, que se tornou o presidente com a vitória nas urnas. Entretanto, como todos bem sabemos, as águas da política nunca são tão claras, e as marés nunca se repetem a ponto de permitir previsões com alguma precisão. Virtual desconhecido da população em geral, Michel Temer é renomado na política pelo perfil articulador e conciliador. A prova disso foi o fato de ter bem-sucedido na tarefa de unificar o PMDB, algo que nem mesmo FHC e Lula conseguiram. Além deste feito, Temer trouxe os demais partidos para sua base, obtendo assim vitórias desde que assumiu a Presidência da República ano passado. Aprovou a PEC dos Gastos e avançou as discussões sobre a Reforma da Previdência e Política. Também montou uma equipe econômica que conseguiu domar a inflação, aliviando o bolso da população, o que é sempre bem recebido pelo mercado. Nem todas essas vitórias, entretanto, são capazes de domar as ruas que, em sua maioria, rejeita o seu governo. A situação é exatamente inversa no hemisfério norte. Fossem palavras, Trump seria o antônimo de Temer. O presidente americano é adepto de um estilo polêmico, já conhecido através do reality show O Aprendiz, algo que seduziu boa parte do eleitorado, mas que faz com que o presidente colecione desafetos até mesmo dentro do próprio grupo político. Em um governo composto basicamente por dois partidos, o Republicano e o Democrata, ter domínio do próprio quintal é requisito obrigatório para governabilidade. Faltaram a Trump votos republicanos suficientes até para aprovar o nome de um Secretário e, ao invés de conciliar, Trump manteve o estilo. Sua última derrota foi a retirada de pauta do projeto que visava substituir o Obamacare pelo chamado Trumpcare. Mais uma vez faltavam votos dentro do próprio Partido Republicano, o que levou o governo a retirar o texto de votação. A implosão da pauta coloca em cheque a imagem projetada pelo presidente americano durante a campanha, de que sua experiência empresarial seria uma vantagem quando em mesas de negociação política. Sua próxima incursão é a reforma tributária e, a julgar pela experiência até agora, Trump pode não alcançar o resultado desejado. É importante lembrar que Barack Obama governou sem ter maioria no Congresso, e mesmo assim aprovou o Obamacare. Governabilidade é uma conquista diária, onde Brasil e Estados Unidos tem muito a aprender um com o outro. É importante lembrar sempre que um governo que não conta com apoio das ruas, não persiste, e um presidente que é apoiado pelas ruas mas não tem os votos necessários para fazer valer sua vontade, não existe. Negociação é um jogo de ganha-ganha e, em política, faz bem a todos lembrar que, não importa o modelo e o estilo de governo, quem tem que ganhar é sempre a população. Só assim um governo pode não só existir, mas também persistir.
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Outros assuntos, Política
Modernizar para sobreviver: o dilema do Brasil
27 de março de 2017 at 15:35 0

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O momento econômico é bastante favorável ao Brasil até porque todas as previsões econômicas continuam sendo otimistas principalmente quanto ao aspecto da inflação que teve como principal vitória a quebra da inércia dos preços administrados, o que mostrava o acerto na persistência em romper este ciclo, tornando factíveis as previsões de queda de juros. Apesar disto, não podemos simplesmente creditar todos os bonos à equipe econômica do governo, pois a retração causada pelo mal gerenciamento das contas públicas deixou o consumidor com uma baixa capacidade de pagamento de suas suas próprias contas, o que faz com que a economia real se torne anêmica e aumente ainda mais o índice de desemprego.

Realmente a confiança esta voltando e uma das causas, sem dúvida é a queda da inflação e a queda anunciada de juros que vai ajudar na retomada da economia. As reformas que estão em pauta como a da Previdência e a Trabalhista, além das discussões sobre a desburocratização e muitas outras. Estas reformas tem tido uma atenção especial das duas casas, tanto do Senado quanto da Câmara do Deputados. Por que agora as reformas passaram a ser tão importantes?

As reformas são o principal fator de melhora de ambiente macroeconômico e, consequentemente, de melhora de expectativas futuras, o que gera um ambiente bastante benigno para os investimentos, tanto locais como estrangeiros. A equação para retomada da economia real passa pela necessidade de voltar a um patamar mínimo de investimentos para que se quebre a inércia gerada pela crise nos vários setores da economia.

Essa agenda agora passou a ser tão importante para os políticos em geral porque a melhora da economia vai influenciar o momento político de 2018. Sem dúvida a maioria dos futuros candidatos à reeleição veem na melhoria da atividade econômica e diminuição do desemprego a boia de salvação do atual governo e de seus mandatos. As pessoas tendem a ser mais tolerantes em um ambiente econômico mais favorável e nossos políticos sabem disso.

Acho que estamos diante de um momento altamente propício a ter efetivos ganhos institucionais com as reformas e gerar uma visibilidade externa positiva em face das reformas propostas. O grande unificador dos maiores partidos em torno de reformas será a continuidade da "Lava a Jato" que joga uma pressão maior na classe como um todo. Fazer essas reformas não deve ser uma medida para retirar o foco de atenção dos escândalos, porém a pressão sobre nossa economia diminui e poderemos entrar mais rápido em um ciclo de melhora. A tendência é que a aprovação do modelo adotado pelo governo Temer aumente e gere bônus para a eleição de 2018, até porque desmonta definitivamente os argumentos petistas de golpe e além disso, tanto PMDB como o PSDB voltariam a ganhar algum fôlego eleitoral para o próximo ano. Sem duvida nenhuma as reformas nunca sairiam por vontade espontânea política, principalmente em um ano que antecede as eleições presidenciais e estaduais.

Reformar leis consolidadas já há mais de meio século é um grande passo, porém o nome já contextualiza a questão, uma vez que tudo na vida precisa de ajustes com o passar do tempo. Nossa casa, empresas e até mesmo os nossos hábitos também demandam mudanças de tempos em tempos, pois sem isto tendemos a ficar literalmente velhos e obsoletos. Em um país como o nosso, em que muitas das legislações – especialmente a previdenciária e a trabalhista -  foram estabelecidas há muito tempo, é preciso se readaptar dentro de uma nova realidade moderna e contemporânea.

No caso da Previdência, o ponto central é a idade mínima de 65 anos. Se compararmos quando foi elaborada a Lei da Aposentadoria, a expectativa de vida da população era outra, talvez uns 20 anos a menos. A contestação de direito adquirido e intocável não faz nenhum sentido sob este ponto de vista. Fazer reformas de verdade, no entanto, mexe com direitos que as pessoas consideram imutáveis e é assim que é apresentada questão por aqueles que são contra a reforma.

É preciso contextualizar o assunto e lutar por uma reforma que possa reconstituir um sistema que seja compatível com dias de hoje, até porque, se não o fizermos, as instituições não serão capazes de suportar as despesas recorrentes causadas pelo envelhecimento da população. Os investimentos serão diretamente proporcionais às reformas que fizermos e são ponto fundamental para que os recursos retornem e comecem a gerar novos empregos, para que nao tenhamos uma geração de filhos pobres com avós e pais ricos - que é o que hoje começa a se desenhar no seio familiar, em que muitas vezes a renda do filho classe media é pior que a dos pais aposentados.

Por fim, o Brasil tem agora uma oportunidade ímpar de se reorganizar com estas reformas e caminhar para termos uma possibilidade real de uma nova década virtuosa.

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Investimentos, Política
O que está por trás das mudanças do FGTS
21 de fevereiro de 2017 at 16:15 0

A notícia que o governo liberou o saque de contas inativas do FGTS não foi surpresa, afinal os debates sobre mudanças no fundo vêm ocorrendo há vários meses, atraindo a atenção dos trabalhadores brasileiros. A Medida Provisória 763/2016 liberou o saque das contas inativas vinculadas a contratos vencidos até 31 de dezembro de 2015 e também elevou a rentabilidade por meio da distribuição dos lucros.

Engana-se quem acredita que é apenas um pacote de bondades, como o que temos visto nos últimos anos nos últimos governos. A liberação do saque faz parte de um conjunto de medidas que tem o objetivo de fortalecer a economia brasileira, que ainda patina. Todos sabíamos que a recuperação não seria fácil, mas temos visto um esforço genuíno do governo atual em fazer o Brasil crescer novamente.

A questão do saque do FGTS é um exemplo claro desse esforço, já que a liberação desses valores tem potencial para injetar mais de RS 30 bi na economia. A maior parte desses saques são de valores até um salário mínimo e que, embora pareça pouco, pode ser o suficiente para o pagamento de dívidas que permitam que o trabalhador volte a consumir.

A outra mudança importante é a rentabilidade que o FGTS vai oferecer ao trabalhador, que irá se aproximar de 6% mais a TR, resultado da distribuição dos lucros. É uma mudança importante, já que o fundo vem acumulando perda de rendimento e chega a ter um rendimento pior que a poupança – em 2016, por exemplo, não chegou a recompor a inflação anual.

É importante verificar, como a mudança na regra da remuneração impacta no setor de infraestrutura. O FGTS é utilizado pelo governo para investimentos em obras de infraestrutura básica, saneamento, imobiliários e outros, e nós sabemos que estamos diante de um grave problema de confiança no segmento, com o envolvimento das construtoras na Operação Lava-Jato.

Outra grande mudança no Fundo de Garantia é a liberação dos recursos do trabalhador para a aplicação em imóveis de maior valor, até R$ 1,5 mi. Especialmente nos centros urbanos, essa medida tem uma consequência muito boa, no sentido de ajudar a reduzir os estoques imobiliários. As construtoras, por sua vez, são forçadas a construir novos empreendimentos de alta renda e reabrir os quase 780 mil postos de trabalho encerrados nos últimos anos.

De modo geral, acredito que é uma boa medida recompor o poder de compra dos brasileiros para estimular o consumo e o investimento. O governo espera que o ano de 2017 se encerre melhor que 2016, com mais brasileiros empregados e mais dinheiro circulando. Depois de tanto tempo em recessão, um pequeno respiro é bem-vindo para todos nós.

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Finanças, Política
Os efeitos positivos da PEC 241 na economia
14 de outubro de 2016 at 17:24 0

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A PEC que limita os gastos públicos no teto da inflação e sua aprovação foi, sem dúvida, a notícia mais recorrente nos últimos dias. A discussão sobre assunto tomou grandes proporções uma vez que praticamente todos os setores do governo e da economia se posicionaram contra ou a favor e atraíram a atenção para o assunto até mesmo de pessoas que não dominam a matéria econômica.

É preciso ter um olhar macro sobre a situação. A relevância da PEC do Teto, como foi apelidada, reside em fortalecer a percepção dos investidores de que o Brasil é capaz de conter seus gastos e não ficar à deriva, em rota de colisão com um dívida pública incontrolável.

Divulgar informações fora do contexto faz com que a opinião pública tenha uma compreensão equivocada dos fatos, especialmente no que diz respeito ao comprometimento dos investimentos sociais, como saúde e educação. Antes de mais nada é preciso ter em mente que o orçamento brasileiro é muito amplo e é possível remanejar as prioridades em setores tão relevantes e que merecem atenção especial, como estes.

Acredito que o maior trunfo que a PEC 241 pode proporcionar neste momento é recuperar a confiança dos mercados em geral. Esta confiança traz de volta os investimentos, tanto nacionais quanto estrangeiros, além de um maior entendimento sobre o governo do Presidente Michel Temer, que aparenta ter por base e ponto central o compromisso político com a economia, fazendo as coisas voltarem ao rumo, ou seja, fazendo uma gestão financeira e econômica responsável. Não resta outro caminho para a consolidação de seu governo e aceitação popular. Não será uma campanha de marketing ou reposicionamento de imagem que fará com que a população esqueça o desgaste sofrido pela atual administração durante processo de impeachment.

O grande desafio ainda será mostrar ao país que um mínimo de organização fiscal sera benéfica para todos, inclusive para ampliar os benefícios sociais que são demandados pela população. Superar esta etapa será decisivo no sucesso ou não dessas reformas.

Com aprovação desta PEC o caminho está aberto para a redução de juros. A volta gradativa dos juros a patamares aceitáveis beneficia todos os setores econômicos e, em especial, a produção de modo geral e o mercado imobiliário, que se beneficiam e voltam a ter condições mínimas de juros compatível com a curva do setor.

O movimento natural de uma melhora econômica passa primeiramente pelo mercado de capitais, que antecipa os movimentos futuros da economia real. Poderemos ver nos próximos meses uma recuperação real nas atividades produtivas.

O ministro da economia Henrique Meirelles, assim como o presidente, sabem que tudo começa com o ajuste nos gastos e apostaram pesado na aprovação da PEC 241. Aparentemente, ao obter sucesso nesta jogada, abriu-se caminho para que outros desafios econômicos e políticos estejam brevemente na agenda das reformas, sendo que a mais relevante será a da Previdência Social - sem dúvida um outro enorme desafio.

Duas questões também em pauta se destacaram pela sua importância no período. Dada a relevância da Petrobrás para o país, a aprovação do fim da participação compulsória da empresa na exploração do pré-sal dá oportunidade para que outros players do setor façam esses investimentos. O valor de mercado das ações praticamente triplicou e voltou ao patamar de 220 bilhões, muito em função da percepção de uma gestão mais transparente e mais independente, já que todos sabem da importância social da empresa e esta também sabe que tem contas a prestar aos acionistas.

Também a  possível mudança na lei de repatriação de Recursos (PL 2.617/15) fazendo correções mais inteligentes e possivelmente arrecadando mais, deve entrar em breve na pauta do Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fez um esforço no sentido de que todos possam se aproveitar do beneficio de ter uma arrecadação mais robusta e que beneficie toda sociedade, uma vez que essa medida proporciona a possibilidade de diminuir a necessidade de aumentar impostos. Concretamente esta é a única variável de curto prazo que pode ser traduzida em arrecadação direta no curtíssimo prazo.

Não se trata de justiça social, mas sim efeito caixa, já que temos um déficit gigante. Simplesmente poderemos diminuir, com esta conta, o que pode chegar a ser R$ 15 bi a R$50 bi, dependendo da segurança jurídica que dará aos beneficiados. Caso se concretize, ajudará a resolver problemas dos estados da União e melhorar a nossa conta corrente.

Acredito que temos uma janela aberta, que nos traz esperança de podermos voltar a crescer mesmo que timidamente e com os enormes desafios e adversidades a serem superados.

A PEC 241 não é a solução no presente, mas sem dúvida é a solução para o futuro do país nos próximos 20 anos.

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Finanças, Política
Melhoram as previsões para a economia brasileira
6 de junho de 2016 at 17:48 0

Previsões para a economia brasileira

O Boletim Focus desta segunda-feira muda um pouco as perspectivas para a economia brasileira. Apesar de ainda contarmos com a inflação, os preços e os juros tendem a baixar, segundo as análises apresentadas.

As famílias brasileiras somente sentirão os efeitos de melhora, caso as previsões se concretizem, ao longo de 2017.

Enquanto isso, a nossa situação política ainda poderá nos surpreender muitas vezes positiva ou negativamente. Afinal, a nova gestão econômica do governo federal foca no investimento estrangeiro, tentando recuperar a confiança e a fatia que perdemos. O otimismo no momento está nas nossas exportações, que seguem fortes em algumas áreas como, por exemplo, a agropecuária.

A sociedade brasileira e todo mercado mundial aguardam as ações do governo para fazer os ajustes necessários. Apesar de o boletim Focus de hoje melhorar as perspectivas para até 2017, um aumento de carga tributária seria muito mal recebido por todos.

É necessário que o governo aperte mais ainda os cintos das contas públicas, que haja uma revisão verdadeira e congelamento de despesas, senão o que vai sobrar são as medidas impopulares, que causarão comoção e protestos. Isso certamente nos fará voltar à montanha-russa da desconfiança.

Acredito que os anúncios positivos da última semana, que fizeram o presidente sofrer muita pressão e recuar, deverão ser repensados e retomados.

O Brasil deve fazer o que for necessário para ajustar a nossa economia e voltarmos a crescer. Não é simples, mas é possível, caso sejamos firmes na aprovação das medidas de controle das contas públicas.

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Finanças, Política
As medidas econômicas e a crise política
25 de maio de 2016 at 13:53 0

medidas econômicas

Ontem foi um dia importante para a economia brasileira. Após dias de expectativa, a nova equipe econômica anunciou algumas propostas.

O presidente Michel Temer se reuniu com os líderes de partidos aliados e anunciou algumas medidas. Antes de comentar tais medidas, gostaria de atentar para a questão política deste ato. Pedindo união e dando prioridade das informações ao parlamento, está clara a tentativa de melhora no relacionamento político. Ele pede união e é isso mesmo que o país precisa.

Percebemos que há um movimento claro do governo para planejar a recuperação da economia brasileira em longo prazo. A intenção é que estejamos em melhor momento para as eleições de 2018, deixando os cofres mais equilibrados para a nova gestão que virá. Talvez por isso, não houve anúncio de medidas drásticas como grandes cortes ou novos impostos, que possam trazer algum efeito imediato.

O mais significativo para melhorar o saldo, foi o anúncio do pagamento de R$ 100 bilhões da dívida do BNDES com o Tesouro Nacional. Esse pagamento, segundo as contas da equipe, traria uma economia ao TN de R$ 7 bi ao ano. É bom explicarmos que o governo anterior repassou ao BNDES, para um programa chamado “Sustentação do Investimento”, muito mais do que era necessário. Isso causou uma dívida imensa, com o efeito contrário: investimento caiu, em vez de aumentar. O dinheiro ficou parado e o prejuízo era certo. Achei boa essa medida, mas ainda depende de avaliação jurídica.

Não vou citar aqui todas as medidas tomadas pois os jornais nos apresentam detalhadamente. Quero passar aos meus leitores o meu sentimento a respeito dos encaminhamentos dessa nova equipe. Acredito que essa trajetória com planejamento a longo prazo poderá trazer novamente a confiança aos consumidores, às empresas e investidores para que o país volte a funcionar.

Todos sabemos que o Brasil precisa gerar receita em curtíssimo prazo e, para isso, devemos esperar algum pacote que seja duro. Mas a sinalização de irmos pelo caminho das concessões, privatizações e PPPs (investimento privado), parece ser bem racional para uma recuperação de caixa. Passa credibilidade, que foi a nossa maior perda dos últimos anos.

A equipe descreveu propostas e objetivos. Mas a decisão mais importante é a definição do teto para os gastos públicos. A pretensão é que ele nunca cresça acima da inflação anual. Isso por si, já corta as despesas públicas na carne, apesar do desafio maior ser a dificuldade em aprovar no Congresso. Se for aprovado terá um impacto grande, dentro de 3 anos, em até 2 pontos percentuais do PIB. Isso significa em números de hoje um corte de R$ 120 bilhões nas despesas do governo. Essa solução cria uma reação em cadeia: com o país crescendo, a dívida pública tende a diminuir cada vez mais.

Ainda temos a crise Romero Jucá que, sem dúvida, contribui para alvoroçar a oposição esquerdista e petista, tumultuando e agravando a incerteza política. O governo precisa de um novo nome para o Ministério do Planejamento. Já deu para ver que a conciliação dos interesses será o maior desafio do governo Temer, pois está difícil conseguir nomes que não estejam envolvidos na Lava Jato.

Depois da noite tumultuada, que aprovou a nova meta fiscal com rombo de R$ 170 bi nos cofres, o que podemos prever é que a crise política vai continuar em alta temperatura.

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Investimentos, Política
A cara do novo governo
18 de maio de 2016 at 14:06 0
equipe econômica

O criterioso processo de escolha da nova equipe econômica do governo foi baseado na meritocracia. A escolha do Ilan Goldfajn para presidir o BC não foi nenhuma surpresa, assim como o anúncio da Maria Silvia para o BNDES também constituiu uma boa escolha, além de outras, todas baseadas no conhecimento técnico e experiência institucional que, sem dúvida, é muito importante no momento.

As escolhas para equipe econômica não poderiam ser melhores e dão um cacife de peso contra os torcedores do caos ou mesmo pessoas mais míopes que têm dificuldade proposital em enxergar que a política populista, em décadas, não teve nenhuma efetividade prática de tirar pessoas da pobreza como alardeiam.

Dar somente Bolsa Família ou casa para as pessoas não é nenhuma grande virtude. Se fosse assim, poderíamos também distribuir dinheiro para os necessitados jogando  de cima de um helicóptero e também estaríamos fazendo um bem social. Na visão deles, se jogássemos dinheiro de helicópteros nas favelas seria socialmente correto.

O mais relevante que estes governos populistas poderiam fazer para tirar as pessoas da miséria não seria distribuir dinheiro e sim colocá-las no mercado de trabalho e dar condições educacionais para que saiam da pobreza de um modo mais nobre e digno, dando condições profissionais de concorrer no mercado de trabalho.

Assim, reconstruir a credibilidade começa por uma boa equipe econômica. Num momento de transição pode-se até errar nas escolhas de alguns ministérios, mas não nesta formatação e âncora que devolverão a credibilidade ao país, fazendo com que volte a confiança e em seguida o investimento. A moeda da credibilidade na economia, sem dúvida, vem lastreada pelas escolhas e coesão. Pode até dar errado, mas sem esse primeiro passo nada acontece em seguida.

A Presidente Dilma optou por seguir a linha de atuação que pudesse agradar um pouco ao PT e a alguns setores da economia, mas não gerou credibilidade suficiente para que a confiança retornasse e o governo foi se esfacelando em todos os quesitos econômicos.

Por fim, para entendimento das pessoas que têm menos intimidade com os jargões econômicos, é bom compreender que a equipe econômica é o centro de todo governo. Basta olhar para o recente episódio do impeachment. A Dilma caiu pelas mazelas econômicas e consequentemente pela deteriorização da economia: desemprego, crescimento negativo e  tudo mais que sabemos. Ninguém cai com a economia dando resultado, com ou sem pedalada. Dilma caiu porque se não caísse a continuidade da política econômica desastrosa acabaria com as contas públicas do país e tomaríamos um caminho como o da Venezuela, sem volta, pois aqui nós temos bastante alavancagem nos mercados.

O inverso vale para o Temer, pois se ele errar na economia também não chega ao fim de governo. Por isso ele trouxe os melhores e não poderia ter escolhido melhor nome do que o Meirelles, que tem o viés econômico e o político, diferenciando-se de outros técnicos economistas.

Boa sorte ao Brasil. Que tudo corra como acreditamos e torcemos: com responsabilidade, técnica e muito trabalho.

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Câmbio
Câmbio no Brasil: O problema é operacional, não regulamentar
17 de novembro de 2015 at 17:23 0

câmbio

A notícia que circula hoje é sobre o documento que o PMDB pretende apresentar: um manifesto com 10 propostas para resolver a crise econômica no país. Não importa o partido nesta hora, precisamos pensar no que é melhor para todo mundo. O problema da briga partidária no Brasil, como falei no artigo “House of Cards” é que as disputas cegam os agentes responsáveis pela mudança e solução.

As propostas do PMDB, apresentadas pelo Temer no Congresso da Fundação Ulysses Guimarães, são austeras, com a sugestão principal de reforma do Orçamento da União, com mudanças na Previdência, Saúde, Educação, até na atuação do Banco Central.

Um dos pontos defendidos pelo PMDB é uma mudança na forma que o BC intervém no câmbio. Muito se fala no Brasil sobre intervenção no câmbio, mas nem todos compreendem como a coisa funciona. Existem basicamente três formas de atuação estatal em câmbio. O Swap, que é adotado atualmente, o spot e o forward. Como o próprio nome diz, o Swap é uma troca, quando não existe a entrega da moeda. Existe apenas uma liquidação financeira pela diferença de taxas de câmbio na data de vencimento, podendo ser positiva ou negativa para o BC. Isso é feito para que o governo consiga segurar o valor da moeda sem que suas reservas fiquem vazias, pois há a recompra. Se o BC não adotar essa linha e acabar passando para o spot, haverá o esvaziamento, pois essa operação implica na troca de uma moeda por outra, ou seja, vendemos dólar em troca de reais, euros ou qualquer outra moeda estrangeira. Falar em mudança na abordagem do BC em relação a intervenção é para inglês ver. Pretendem fazer o que? Congelar o dólar como foi feito na Argentina? Deixar que ele flutue livremente em um ambiente com fragilidade estrutural e conjuntural? O problema é operacional e não regulamentar.

Indo contra o propósito de união de forças, o documento criou uma polêmica imensa dentro do próprio PMDB e com aliados do governo. O documento ao menos enxerga e assume que o país está num momento crítico e que algo precisa ser feito, pois o tempo acabou e não podemos mais continuar na inércia esperando as mudanças que sim, têm de ser estruturais.

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