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Investimentos, Política
O Dilema do Câmbio
25 de agosto de 2016 at 14:56 0

O Dilema do Câmbio - Saul Sabbá

A previsão de que o dólar pode chegar na faixa dos R$3,00 (ou até menos) nos próximos meses é como um tiro no escuro para quem não está familiarizado com as movimentações do mercado financeiro. Quando a moeda norte-americana ultrapassou esse valor pela primeira vez em mais de 10 anos, em março de 2015, acendeu o alerta para o mercado de que a situação podia piorar, mas o efeito para os brasileiros foi mais grave. Após anos de economia estável, a iminência de retornar ao caos em que vivíamos antes do Plano Real era um temor justificável.

Já vivenciamos muitas fases em nossa jovem democracia. Sabemos, por experiência, que a instabilidade política não faz bem à nossa economia: o mercado não gosta de fragilidades decisórias. A abertura do processo do impeachment da presidente Dilma anunciou o começo das mudanças que culminaram com as sucessivas baixas do dólar nos últimos meses. Pode parecer pouco, só que a sinalização de mudanças profundas na maneira como a economia é conduzida dá credibilidade ao país, diante dos investidores.

Credibilidade é importante. A perda do grau de investimento foi como um carimbo evidenciando que a economia brasileira não é sustentável. Ficou ruim para todos, desde o Governo - cuja reputação se desfez, às empresas privadas - que passaram a ter problemas para rolagem de dívidas estrangeiras. Já disse anteriormente e repito: o trabalho de quase 30 anos construindo as bases de uma economia saudável foi por água abaixo em pouco tempo.

O processo do impeachment está prestes a ser concluído e com ele existe a possibilidade de que reformas importantes possam ser feitas no Brasil. Estamos em um momento crucial, onde podemos pensar no futuro ao mesmo tempo em que ajustamos o presente. A reforma previdenciária não é um capricho, mas peça importante do ajuste fiscal que trará avanços econômicos importantes a longo prazo.

Ao observarmos a questão previdenciária mundial, vemos a importância de se desenvolver uma estratégia que possa ser benéfica a longo prazo. Grosso modo, os países onde há população em idade mais avançada e hábitos conservadores de investimento são os primeiros no mundo a trabalhar com juros negativos, o que tem levado os investidores a empregar capital de maneira diversificada. As economias mais estáveis saem na frente nesse aspecto, por isso a importância de encerrar esta etapa do impeachment e prosseguir com o dia-a-dia do governo.

Diversas vezes falei para os meus leitores que a sensação de confiança é um aspecto dos mais importantes para a saúde da economia de um país. Observar o cenário econômico mundial e estar atento às mudanças que podem ter impacto em nossa economia é o que nos permite emitir essas opiniões. Não é adivinhação e nem futurologia, mas análise de fatos.

Acredito que o Brasil reúne todos os fatores para sair da crise, recuperar o grau de investimento e continuar a caminhada rumo ao desenvolvimento. Como em toda caminhada, existem os percalços. O importante é aprender com os erros e tomar medidas para que estes não se repitam.

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Juros negativo
17 de fevereiro de 2016 at 09:30 0

juros negativos

Sem dúvida que entramos em uma nova fase de reavaliação sobre até quando o capital injetado nas economias Americana e Europeia teve sucesso em irrigar a economia via política de compra de ativos problemáticos ou através empréstimo de linhas de capital diretamente pelo Banco Central.

O que está por trás de tantos recursos ilimitados dos tesouros e Bancos Centrais destes países?   As emissões de moedas fortes não precisam de lastro e sim de credibilidade, como no caso o Dólar e o Euro passando a ser entesouradas pelo mundo a fora, com emissão que não gere inflação. 

O Japão vem, ha alguns anos, tentando sair da deflação e produzir um pouco de inflação. Estes países, de modo geral, têm sistemas totalmente desindexados e com uma economia de mercado bem competitiva, mas também têm problemas de crescimento populacional, além de uma renda per capita bastante alta. A poupança é culturalmente alta e assim a disponibilidade de capital também é alta, mesmo sem atratividade dos juros positivos. 

Agora a Suíça também acaba de colocar os juros negativos como base de recebimento dos recursos recebidos via Bonds do Governo Suíço ou mesmo depósito de curto prazo, que começa a acompanhar o Banco Central da zona do Euro. O FED já falou que vai analisar o assunto, não porque acredita que seja uma tendência, mas porque não dá para ignorar. Após a crise de 2008 houve grandes transformações no sistema bancário mundial e, de alguma forma, o eixo dos problemas mudaram, saíram de controle de inflação via política monetária para aumento de estímulo econômico. Na tentativa reativar a atividade da economia real, o juro negativo veio a reboque. 

Os juros negativos já foram implementados em algumas economias escandinavas, como na Dinamarca que já o utiliza ha mais de três anos e mantém o sistema de juros  até hoje como uma forma de dar competitividade à sua moeda, através do enfraquecimento da mesma e gerar maior competitividade para a indústria local, porém sem grandes efeitos na expansão do crédito ou na reativação da economia. Segundo declarações de autoridades Dinamarquesas, funcionou mais para desvalorização do que estimular o crédito e, de certa forma, também trouxe no primeiro momento uma queda nas receitas bancárias, pois os juros por lá ainda estão em 0,75% negativo a.a. 

De qualquer forma, o saldo tem sido positivo na economia com juros de crédito habitacional pouco acima de zero e, consequentemente, valorizando o mercado imobiliário, pois o sistema bancário teve de se readequar através de serviços e tarifas e, em contrapartida, teve um baixíssimo índice de inadimplência. Atualmente os principais bancos já recuperaram sua lucratividade. 

Qual o significado de tudo isto?

Podemos dizer que estamos começando a fase ou a era do juro negativo, ou é um fato passageiro? Só o tempo dirá. Por que os BC estão forçando o juro negativo no mundo? 

Parte da resposta está na concentração bancária, que cada vez mais segue essa tendência do "Too big to fail" (grande demais para falhar), em que o gigantismo bancário e a concentração fortalecem o sistema, mas ao mesmo tempo deixa o mercado financeiro vulnerável a um número reduzido de Bancos.

Os BCs americano e Europeu injetaram muita liquidez ao sistema bancário para que irrigasse a economia americana e Europeia, mas o que acontece quando o sistema financeiro fica restrito a poucos bancos, como a maioria das economias? O capital não trabalha com efetividade no melhor conceito, pois a enorme montanha de dinheiro injetado - no caso americano e europeu - via compra de ativos tóxicos, além de outras linhas e até mesmo equity (como aconteceu em 2008), fica à deriva. Na maioria das vezes esse capital retorna via títulos Bonds ou mesmo depósito remunerado no BC local, gerando enormes lucros aos bancos, via arbitragem, com esses recursos empoçados no sistema financeiro. 

O que os BC estão tentando, na realidade, é colocar o capital para trabalhar mais na economia real e com menor arbitragem, pois encostar capital no sistema seguro vai custar e gerar perdas, ou seja: terão de pagar para deixar o dinheiro sem risco. 

De alguma forma, isso se aplica aqui no Brasil pela analogia da concentração bancária, onde cinco bancos dominam 80% do mercado bancário. Basta ver que quanto maior a Selic, maior a lucratividade, basta ver que mesmo com a alta da inadimplência os lucros aumentam sem parar. 

O fato de vários bancos europeus terem tido quedas consistentes na Bolsa não é só por isso, mas também pelo tombo no preço do petróleo que, sem dúvida, coloca mais uma pitada de pimenta em relação à capacidade de grandes bancos. Sem contar a China e outros eventos mundiais. 

Termos como fabricar inflação começa a ser usual, principalmente para países que têm pouca indexação e uma economia de mercado mais competitiva, maior eficiência tributária e menos burocracia, com boa capacidade de melhora da produtividade. Esses detalhes fazem com que inflação pareça ser um problema apenas dos países do segundo e terceiro mundos. 

De qualquer forma tudo parece problema, mas o principal é que acredito que sendo mais difundido, como parece ser uma tendência, poderemos ter benefícios importantes na nossa economia em momentos tão difíceis, como o atual. Primeiro pela maior busca de rendimento através de títulos federais e outros ativos, pelos investidores que precisaram balancear seu portfólio com algum ativo de maior risco, e em segundo pela situação de reservas de dólares do país, além de uma tendência de superávits da balança de comércio exterior positiva e o fato principal do nosso sistema financeiro ser de primeiro mundo. 

Estes fatos, sem dúvida, poderão nos beneficiar em curto prazo - dois a três anos, além do fato de termos uma janela com boas perspectivas na área política em 2018, com a possível consolidação de um governo mais coeso entre Congresso, Senado e Executivo.   

Enfim, sonhar sempre nos faz bem.

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