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FGTS

Investimentos, Política
O que está por trás das mudanças do FGTS
21 de fevereiro de 2017 at 16:15 0

A notícia que o governo liberou o saque de contas inativas do FGTS não foi surpresa, afinal os debates sobre mudanças no fundo vêm ocorrendo há vários meses, atraindo a atenção dos trabalhadores brasileiros. A Medida Provisória 763/2016 liberou o saque das contas inativas vinculadas a contratos vencidos até 31 de dezembro de 2015 e também elevou a rentabilidade por meio da distribuição dos lucros.

Engana-se quem acredita que é apenas um pacote de bondades, como o que temos visto nos últimos anos nos últimos governos. A liberação do saque faz parte de um conjunto de medidas que tem o objetivo de fortalecer a economia brasileira, que ainda patina. Todos sabíamos que a recuperação não seria fácil, mas temos visto um esforço genuíno do governo atual em fazer o Brasil crescer novamente.

A questão do saque do FGTS é um exemplo claro desse esforço, já que a liberação desses valores tem potencial para injetar mais de RS 30 bi na economia. A maior parte desses saques são de valores até um salário mínimo e que, embora pareça pouco, pode ser o suficiente para o pagamento de dívidas que permitam que o trabalhador volte a consumir.

A outra mudança importante é a rentabilidade que o FGTS vai oferecer ao trabalhador, que irá se aproximar de 6% mais a TR, resultado da distribuição dos lucros. É uma mudança importante, já que o fundo vem acumulando perda de rendimento e chega a ter um rendimento pior que a poupança – em 2016, por exemplo, não chegou a recompor a inflação anual.

É importante verificar, como a mudança na regra da remuneração impacta no setor de infraestrutura. O FGTS é utilizado pelo governo para investimentos em obras de infraestrutura básica, saneamento, imobiliários e outros, e nós sabemos que estamos diante de um grave problema de confiança no segmento, com o envolvimento das construtoras na Operação Lava-Jato.

Outra grande mudança no Fundo de Garantia é a liberação dos recursos do trabalhador para a aplicação em imóveis de maior valor, até R$ 1,5 mi. Especialmente nos centros urbanos, essa medida tem uma consequência muito boa, no sentido de ajudar a reduzir os estoques imobiliários. As construtoras, por sua vez, são forçadas a construir novos empreendimentos de alta renda e reabrir os quase 780 mil postos de trabalho encerrados nos últimos anos.

De modo geral, acredito que é uma boa medida recompor o poder de compra dos brasileiros para estimular o consumo e o investimento. O governo espera que o ano de 2017 se encerre melhor que 2016, com mais brasileiros empregados e mais dinheiro circulando. Depois de tanto tempo em recessão, um pequeno respiro é bem-vindo para todos nós.

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Finanças, Política
Atenção! Consignado é caso de polícia.
18 de julho de 2016 at 16:51 0
Empréstimo consignado

"Bancos suspendem consignado para funcionário público em três estados", diz a chamada de uma reportagem do Jornal Estadão em 16 de julho.

Este modelo de crédito foi criado para ser um dos mais seguros do mercado de crédito pessoal e, por esta razão, se pratica taxas mais baixas do que usualmente são oferecidas no mercado (que vão de 5% até 18% ao mês), girando em torno de 2,3% a  2,7% ao mês.

Por que  esse empréstimo tem uma taxa mais acessível para o tomador?  A resposta seria o baixo risco para os bancos, pois as parcelas são descontadas diretamente em folha de pagamento e, além disso, como mitigador do risco você tem o funcionário público, com maior estabilidade trabalhista.

O que então tem dado errado em uma operação que, em tese, seria considerada (no passado) por quase risco zero por muitas agências de rating? A resposta é simples: a apropriação indébita da prefeitura ou do estado. O estado é responsável fiduciário para fazer o simples repasse do que não lhe pertence, mas se locupleta indevidamente destes valores para custeio geral de suas despesas.

O assunto da reportagem não é novo, nós mesmos aqui no Banco Máxima já tivemos este tipo de crédito com a promessa de que as prefeituras e governos estaduais eram sérios em respeitar os direitos fiduciários dos funcionários. Simplesmente uma balela.

Não funciona assim, pois uma parte das prefeituras e estados deixam os bancos como reféns do sistema, porque não repassam os pagamentos - ou atrasam meses ao seu prazer -, deixando o banco sem alternativa. Se processamos o órgão estado ou prefeitura, os verdadeiros responsáveis pelo desatino de retenção de um direito de cessão fiduciário se escondem na instituição e não na responsabilidade direta das pessoas físicas de serem processadas.

O processo pode durar anos, considerando ainda que os eventos de não repasse acontecem normalmente nas trocas de governos, quando deixam o abacaxi do pagamento e o trâmite judicial para o próximo, como está acontecendo neste momento. Obviamente saímos deste mercado com perdas.

Mas o que me deixa mais inconformado com a situação, é ver que os gestores que praticam este desatino, como se isso fosse normal, não têm noção de como prejudicam e contaminam o sistema como um todo:

  • Os bancos perdem dinheiro com a inadimplência e passam a cobrar taxas mais altas, pelo risco institucional na operação de consignado;
  • O funcionário fica inadimplente e pode ser apontado no Serasa, ficando com o nome sujo, criando um transtorno para novos créditos.

Mais recentemente, nesta última semana tivemos aprovada no Congresso a utilização do FGTS como garantia destes empréstimos. No caso, o empregado é quem dará a garantia, caso o empregador órgão público não repasse o que lhe pertence. Olha que absurdo!

Na realidade o uso do FGTS como garantia é um seguro para o gestor (prefeito ou governador) que, em caso de não cumprir o mandato que lhe foi dado, o próprio funcionário público poderá ter que pagar duas vezes o empréstimo: no caso de o valor não ser repassado pelo órgão público, que o deixará descoberto do seu crédito, além do desconto em folha o Banco poderá sacar diretamente do seu FGTS.

Ficaria mais barato para todos os envolvidos se aprovássemos duras leis de apropriação indébita, como em qualquer país civilizado, onde o cidadão responderia a processos na sua pessoa física, inclusive com alta penalidade financeira. Assim, quem sabe, entenderiam que não podem simplesmente reter o que não lhes pertence.  O pior de tudo é que eles pensam que só os bancos perdem, mas a perda é geral, menos para eles que saem do governo com a mesma cara de pau que entraram.

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Finanças, Investimentos, Política
A expansão do crédito no Brasil e as consequências
28 de agosto de 2015 at 17:07 0

post_blogdosaulA expansão muito acelerada do crédito no Brasil nos últimos 10 anos, contribuiu para aumentar o consumo pelas famílias brasileiras. Essa expansão alavancou o acesso ao consumo por uma camada da população muito representativa, hoje chamada “Nova Classe Média”.

Demandas para diminuir os déficits habitacional, universitário, de transporte e logística foram responsáveis pelo crescimento do acesso ao crédito no Brasil. Entretanto a estabilidade econômica conquistada nesses anos, razão deste crescimento de consumo, me faz acreditar que fomos muito mais rápidos do que seria suportável e sustentável, obrigando o país a colocar um freio e controlar melhor a disponibilidade do crédito para a população.

A previsibilidade da situação econômica, a inflação e as contas públicas sob controle que foram frutos de uma reformulação da economia brasileira no final dos anos 90, além do estímulo causado pela economia mundial positiva, abriram a possibilidade da expansão do sistema financeiro a partir dos anos 2000.

Neste artigo, vou tratar de analisar a situação do mercado imobiliário. Os bancos trabalharam muito para a expansão do crédito imobiliário e a população de baixa renda teve especial atenção nesse cenário. Nos anos de 2002, 2004 e 2006 foram tomadas medidas que permitiram o crescimento do setor enquanto os juros caíam. A estabilidade econômica das pessoas garantia aos bancos a confiança para alongarem o prazo dos seus empréstimos, facilitando bastante a compra de um imóvel.

Em 2009, o governo lançou o programa MCMV (Minha Casa, Minha Vida), com metas ousadas e deu subsídios às moradias populares que chegavam a 95% do valor do imóvel na faixa de renda mais baixa, para quem aderisse ao programa. Um impulso ainda maior à demanda.

Hoje, pelas restrições fiscais enfrentadas pela União, podemos observar um maior contingenciamento do governo, inclusive o adiamento da fase 3 do programa MCMV.

Recentemente foi aprovado na Câmara dos Deputados um projeto de lei que aumenta a remuneração do FGTS, o que fatalmente aumentará o custo do funding para o segmento e, consequentemente, restringirá a demanda. Essas políticas não foram boas, teremos muitos desafios à frente. Repetindo a história, essa crise afetará a construção civil, diminuindo também as vendas de insumos a níveis insustentáveis. O mais provável é que as incorporadoras financiem seus empreendimentos diretamente aos consumidores e desacelerem novos lançamentos.

Todo gestor de investimentos sabe que corre risco em qualquer transação. É importante estar atento às boas oportunidades dentro de um cenário que parece caótico, pois elas existem. A atenção, o conhecimento da história do mercado financeiro e a disciplina são fundamentais neste cenário. A volatilidade do mercado acionário deve ser acompanhada com cautela, para não cairmos em tentação, sem termos a real avaliação do risco.

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Finanças, Investimentos, Política
O trabalhador e as mudanças no Fundo de Garantia
20 de agosto de 2015 at 17:47 0

FGTS

Como a mudança na correção do FGTS pode influenciar o mercado e a população?

Criado em 1966, o Fundo de Garantia pelo Tempo de Serviço, o FGTS, é um fundo de recursos financiado pelos empregadores,  com o objetivo de forçar a formação de uma poupança para caso de demissão sem justa causa. Inicialmente, o FGTS existia apenas como garantia em caso de desemprego, mas, com o tempo, acabou se tornando também uma alternativa de poupança que pode ser usada para aquisição da casa própria ou como respaldo em caso de doença grave. A mudança nas regras de remuneração do FGTS, aprovada na última terça-feira, 18, em votação simbólica na Câmara dos Deputados, terá impacto direto nas contas públicas e na vida prática dos brasileiros, caso seja aprovada também no Senado. Atualmente, os rendimentos do FGTS correspondem a 3% mais a Taxa Referencial – TR. Com a nova proposta, o Fundo de Garantia passaria a render cerca de 6% mais a TR. Esse aumento nos rendimentos, caso a medida seja aprovada, acontecerá de forma gradual e progressiva a partir de 1º de janeiro de 2016, mas seus efeitos já deverão ser sentidos desde já, pois é o sinal de uma tendência de mudança expressiva. O FGTS sempre foi uma das principais medidas de proteção ao trabalhador, mas, por outro lado, enquanto ficam rendendo, seus recursos financiam obras e projetos governamentais que visam ao aumento da qualidade de vida da população, principalmente no que diz respeito à infraestrutura, saneamento básico e programas habitacionais, dentre outros. Remunerar melhor essa “poupança” é uma medida positiva, cujo efeito será melhor sentido quando o trabalhador vier a sacar o recurso. Entretanto, é preciso analisar com cuidado o impacto que essas mudanças têm na compra de um imóvel. Hoje, o FGTS é utilizado principalmente para viabilizar a construção de moradias de interesse social, especialmente as do Programa Minha Casa Minha Vida, em que os beneficiários são brasileiros que recebem até quatro salários mínimos por mês e constituem, também, a maioria dos cotistas do fundo. Aumentar os rendimentos aumenta também o custo de financiamento, tanto para os empresários da construção civil quanto para os compradores de imóveis financiados, o que pode tornar a compra do imóvel inacessível para uma parcela relevante da população de baixa renda. Essa medida impacta negativamente todo o segmento de imóveis nessa faixa de renda, dificultando o acesso à casa própria para uma parcela da população que depende dos  recursos do FGTS para isso. A terceira etapa do Programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo, pode ser inviabilizada e aumentar ainda mais o déficit habitacional nesse segmento da população. Além disso, o FGTS pode perder a função social que lhe foi atribuída desde a sua criação e se transformar em um fundo financeiro comum, diminuindo sua possibilidade de financiar obras de interesse coletivo que contam com esses recursos para serem iniciadas ou concluídas. Há ainda outros projetos de lei tramitando no Congresso que podem proporcionar maior controle dos trabalhadores sobre os recursos do FGTS que também deveriam entrar nesse debate, já que ele trata de alterar as regras vigentes. Precisamos debater essa questão de uma maneira pragmática, sem a interferência de paixões políticas. Todos os brasileiros  contam com o Fundo de Garantia. Vamos acompanhar os debates, agora no Senado Federal.
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