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A Teoria do Copo Cheio
2 de dezembro de 2016 at 17:55 0

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Existe uma teoria econômica autoexplicativa que muitas vezes é utilizada para expor a razão do momento econômico de uma forma bastante simples, principalmente para responder as questões de “por que a economia não reage” e “quando ela voltará a crescer”, que estão no centro das expectativas do nosso dia a dia, tornando este assunto como uma variável bastante relevante para nós.

A teoria do copo cheio, faz uma analogia bastante simplista, porém bastante explicativa e sem economês, imaginando que o copo é a matriz econômica e o nível de água que está no copo é a capacidade de consumo, fazendo com que o nível seja flutuante e se movimente conforme as atividades e a capacidade das pessoas de consumir. O nível aumenta na medida em que as pessoas vão se endividando, perdendo emprego ou mesmo diminuindo o consumo pela falta de confiança. Conforme os estímulos da economia, o nível aumenta, especialmente quando fomentados pelo crédito e alavancagem dos financiamentos em geral.

Assim, com todos os anos de aumento de estímulos e farto crédito, chegamos a este momento em que o nível da água está quase transbordando o copo. Enfim, ele está completamente cheio.

O tempo é fator racional que explica a analogia do copo cheio em relação à teoria econômica baseada no consumo, como é a do Brasil. A atividade econômica é recuperada pelo TEMPO, uma vez que a “evaporação” diminui o nível da água e faz com que as pessoas voltem a consumir e manter essa capacidade. Enfim, não tem mágica. Somente com a evaporação da água do copo é que o nível de água voltará ao normal.

Foi assim que aconteceu na crise americana, em que uma grande parte da população adquiriu crédito hipotecários, as chamadas mortgage, e isso acabou por destruir a capacidade dos indivíduos de consumirem por um longo período. Durante o período entre 2009 a 2011, os grandes magazines americanos, Bloomingdale’s, Macy’s, Saks Fifth Avenue e outros, estavam abarrotados de turistas, com os poucos americanos comprando estavam catando pechinchas nos outlets. Agora é nossa vez de catar pechinchas, já que possivelmente teremos o pior Natal do comércio em décadas.

Como diriam os americanos: the consumers are gone, ou, em bom português, os consumidores se foram.

Lá nos EUA a teoria do copo cheio também prevaleceu. O processo de recomposição de renda do indivíduo levou quase 4 anos e foi acompanhada de vários estímulos. O principal deles foi o crédito com menor alavancagem e taxa inicial de juros muito baixa, o que prevalece até hoje.

Voltando ao plano interno, acredito que o Banco Central já está percebendo que a retomada da economia não deverá ser tão rápida como alguns agentes econômicos esperavam. Inicialmente a estimativa do PIB para 2017 foi de 2% positivo, posteriormente reajustada para 1,5% e agora fala-se em 1%, caminhando para zero em 2017.

Retornamos à "teoria do copo cheio" que, por mais simples que pareça, é a única realidade conhecida no momento. O fator tempo é considerado na medida em que a recomposição da renda se dá com a capacidade da economia em reagir, principalmente pelo lado do consumo. Não adianta reativar somente o crédito se o consumidor não tem capacidade de pagar. O patamar dos juros deverá ter um papel importante neste contexto, para que a equação consumo, crédito e capacidade de pagamento aconteça.

Assim, o ponto de partida se dará pela queda dos juros como, talvez, o único fator momentâneo. Isso poderá trazer algum estímulo aos consumidores e, consequentemente, reanimar a economia como um todo, alinhado pelo conjunto de reformas necessárias, inclusive fiscal e previdenciária.

Tomar medidas firmes é necessário para governar um país rumo ao desenvolvimento econômico, mas a história mostra que é possível. Faltando apenas 30 dias para encerrar o ano, o momento é planejar.

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Finanças, Investimentos, Juros, Política
A situação atual do mercado imobiliário no Brasil
20 de junho de 2016 at 15:48 0
mercado imobiliário Com a crise econômica e política assolapando em cheio o segmento imobiliário, o setor passa por uma profunda e tenebrosa recessão, sendo que a falta linha de crédito e os juros aos patamares atuais deixam o setor em "stand by". A curva atual dos juros inibe os empreendedores e incorporadores de investir em novos projetos. Crédito e juros a patamares saudáveis são fatores que andam juntos e eu diria que estes dois fatores são sócios diretos na descontinuidade do processo de crescimento do setor imobiliário. Custo projeto + custo do juros+ margem do projeto = preço de venda (com prazo e juros) oferecido ao consumidor final. Quando esta equação não se encaixa, fica muito difícil o mercado funcionar a pleno vapor. Incorporadores e empreendedores do setor estão com muita dificuldade para equacionar os juros e o crédito ofertados pelos principais agentes econômicos. Como pano de fundo temos como grande responsável pela situação atual do setor a alta participação da Caixa Econômica Federal, que detém o maior market share do segmento de crédito. O crédito foi largamente utilizado como uma das alavancas de programa de sustentação política e econômica, principalmente no projeto 'Minha casa minha vida" que foi um dos pilares de sustentação social do PT. Grande parte deste crédito é responsável pelo problema atual da Caixa Econômica, pois os juros ofertados - principalmente às classes C e D, acabam sendo subsidiados. Além disso, a alta inadimplência fez com que a Caixa neste cenário de altas taxas de juros tivesse um déficit operacional entre a captação e a aplicação dos recursos. A alta dos juros impactando diretamente o custo de toda cadeia, desde do incorporador ao tomador final do crédito, fez com que o sistema irrigado pela caderneta de poupança perdesse a atratividade junto a outros investimentos, pois o rendimento oferecido é muito baixo - principalmente junto a títulos do tesouro, LCI, CDB. Assim, os déficits entre passivos e ativos foram gerados. Hoje temos um descasamento entre caderneta de poupança e saques na ordem 60 bilhões, fazendo com que a Caixa tivesse de cobrir a diferença de fluxo negativo através de outras fontes de recursos como CDB e LCI. Como consequência destes descasamentos houve retração da oferta do crédito, tanto às construtoras e incorporadoras, como ao consumidor final de imóvel. Os grandes Bancos, sem dúvida, responsabilizam a alta dos juros pela crise do setor. Pela diminuição da demanda do crédito por parte do comprador de imóvel, com medo da crise econômica, tivemos uma desaceleração no consumo bastante relevante. Como consequência, uma onda de devolução de imóveis sangrou ainda mais o caixa das incorporadoras. O efeito foi duplo: a devolução dos recursos dos mutuários e o pagamento da dívida do empreendimento, deixando em dificuldade a grande maioria das construturas e incorporadoras em um cenário  econômico bastante complicado pela crise política e econômica que se misturam neste contexto. Se feitos adequadamente, os ajustes e impactos no segmento vão levar ainda alguns anos para reorganizar toda a cadeia dentro do setor imobiliário. Primeiro, precisaremos da volta dos juros a um patamar saudável para que o segmento reaja e, a reboque, o crédito voltará a ser ofertado de acordo com a demanda que deverá crescer e ser acompanhada da volta da confiança na economia. O setor privado voltará com maior reticência, mas a tendência será de uma retomada com maior qualidade na escolha do banco de terreno e dos projetos. Se realmente estivermos no fundo do poço, o que muitos acreditam, acho que em 3 anos a retomada plena poderá ser constatada, caso comecemos agora com um governo e equipe econômica que possam trabalhar sem sustos políticos e escândalos da Lava Jato. Caso não seja possível, podemos pensar em prazos para retomada de 3 a 5 anos. Enfim, nada é previsível. Sob o aspecto positivo, a regulação da alienação fiduciária facilitou a nivelação das garantias e trouxe uma gama de investidores no setor pela garantia de legislação em relação à retomada do ativo em caso de inadimplência. Isso fez com que o setor seja ainda um dos mais procurados por investidores, principalmente estrangeiros, que têm apetite em investir com prazos de mais de 10 anos no segmento imobiliário através de fundos, pois apesar da crise eles sabem que todo mercado imobiliário, historicamente, encontra seu piso de oferta e procura. Além disso, o nosso mercado imobiliário teve um curto período de alta alavancagem do setor (não mais de 7 anos) e ainda por ser um mercado patrimonialista, não é tão alavancado como nos países desenvolvidos. O tombo poderia ser maior, como foi nos EUA quando milhares de pessoas ficaram sem residência pelo alto índice de alavancagem via "Home Equity", mais conhecido aqui como empréstimo pessoal usando a casa própria como garantia. Aqui, esse mercado ainda é incipiente. A vida não está fácil para o setor, mas ainda não é dos piores cenários. Da mesma forma que voltamos para trás economicamente, o antigo e velho conceito de valor e investimento em ativo real continuará nossa mentes. Um bom ensinamento diz: "Hedge bom em tempo de crise é comprar ativo barato, pois se você compra barato terá duas oportunidades: vender barato e vender caro".
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Bolsa, Câmbio, Finanças, Investimentos, Juros, Política
Inflação x Empresas
3 de novembro de 2015 at 17:44 0

inflação

Os jornais de hoje mais uma vez trazem a o cenário de como a crise política está afetando a economia brasileira. Segundo alguns especialistas, essa crise política afeta mais os mercados do que a crise econômica em si, já que a desconfiança se traduz em inflação no patamar de 10% e a taxa de câmbio no absurdo patamar de R$ 4,00.

Sobre a inflação as estimativas continuam a piorar, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central (BC). O IPCA este ano subiu de 9,85% para 9,91%. Para 2016, avançou de 6,22% para 6,29%. O Banco Central prevê manter as taxas de juros estáveis em 14,25 pelo menos até julho/2016, apesar da alta da inflação. Já o mercado tem visto esses números como otimistas, acreditamos em uma alta maior do que a estimada pelo governo.

Por causa da inflação e da alta do dólar, muitas empresas estão extremamente endividadas e, para não quebrarem ou evitarem demissões, estão negociando rolagem nos pagamentos dos compromissos firmados com os bancos e o perdão no descumprimento de algumas cláusulas contratuais. As instituições financeiras, por sua vez, estão fazendo de tudo para evitar a inadimplência.

Já o preço do dólar é uma oportunidade para que investidores estrangeiros apostem no mercado nacional. Concordo com as opiniões de que o Brasil está muito barato, em termos de mercado, e investir agora no Brasil é ter a possibilidade de retorno muito alta.

As startups brasileiras de tecnologia, por exemplo, perderam em 4 vezes o poder de compra, entretanto o investimento em dólar está em apenas 1 quarto do que costumava ser. Acredito que os investidores que têm condições de aplicar no mercado brasileiro devem vir, dentro dos próprios critérios estabelecidos, pois quando a crise política se resolver, certamente todos nos beneficiaremos.

 
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Finanças, Política
Sobre as novas regras da Serasa em São Paulo
14 de outubro de 2015 at 17:32 0

regras Serasa

A notícia sobre as novas regras do Serasa no estado de São Paulo me deixou intrigado. A lei estadual nº 15.659 regulamenta o sistema de inclusão e exclusão de nomes de consumidores nos cadastros de proteção ao crédito, prevendo que o devedor seja informado da inclusão em cadastros de inadimplência por correio e assine um Aviso de Recebimento (AR). Caso o devedor não assine, a instituição não poderá negativar seu nome.

Na contramão da praticidade, isso deverá aumentar significativamente a burocracia e os custos, tanto para o credor como para o devedor. Além de tudo isso, será mais complicado ainda limpar o nome: será necessário resolver papelada e custos de cartório, o que, anteriormente, se fazia automaticamente na quitação da dívida. O AR custa sete vezes mais do que uma carta simples, um custo inviável para o pequeno empresário. 
Li numa matéria do G1 que "a Serasa argumenta que a quitação da dívida protestada em cartório implica em exposição pública da dívida se o devedor não for encontrado, necessidade de ir até o cartório e pagamentos de taxas para ter o nome limpo que podem chegar a 30% do valor protestado." 
Para os bancos, as medidas reduzem as concessões de crédito para pessoas físicas nas regiões da lei entre 11% a 17%. Para a pessoa jurídica, a queda ficaria entre 4% e 9% (dados da Febraban).
 
Gosto do modelo americano/canadense, de crédito positivo.  O bom pagador tem uma classificação alta junto aos órgãos de crédito e por isso é contemplado com juros menores. Já o mal pagador tem classificação menor, paga mais juros e, às vezes, não consegue financiamento. Simplificar a vida das pessoas também deve ser dever do estado, para que os bons pagadores que estão passando por um momento difícil (por exemplo) não piorem suas vidas e não paguem pelos que agem de má fé.
 
Em vez de facilitar a nossa vida, medidas como essa apenas criam mais problemas e faz com que nós, brasileiros, sejamos os campeões da burocracia.
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Finanças, Investimentos, Política
A expansão do crédito no Brasil e as consequências
28 de agosto de 2015 at 17:07 0

post_blogdosaulA expansão muito acelerada do crédito no Brasil nos últimos 10 anos, contribuiu para aumentar o consumo pelas famílias brasileiras. Essa expansão alavancou o acesso ao consumo por uma camada da população muito representativa, hoje chamada “Nova Classe Média”.

Demandas para diminuir os déficits habitacional, universitário, de transporte e logística foram responsáveis pelo crescimento do acesso ao crédito no Brasil. Entretanto a estabilidade econômica conquistada nesses anos, razão deste crescimento de consumo, me faz acreditar que fomos muito mais rápidos do que seria suportável e sustentável, obrigando o país a colocar um freio e controlar melhor a disponibilidade do crédito para a população.

A previsibilidade da situação econômica, a inflação e as contas públicas sob controle que foram frutos de uma reformulação da economia brasileira no final dos anos 90, além do estímulo causado pela economia mundial positiva, abriram a possibilidade da expansão do sistema financeiro a partir dos anos 2000.

Neste artigo, vou tratar de analisar a situação do mercado imobiliário. Os bancos trabalharam muito para a expansão do crédito imobiliário e a população de baixa renda teve especial atenção nesse cenário. Nos anos de 2002, 2004 e 2006 foram tomadas medidas que permitiram o crescimento do setor enquanto os juros caíam. A estabilidade econômica das pessoas garantia aos bancos a confiança para alongarem o prazo dos seus empréstimos, facilitando bastante a compra de um imóvel.

Em 2009, o governo lançou o programa MCMV (Minha Casa, Minha Vida), com metas ousadas e deu subsídios às moradias populares que chegavam a 95% do valor do imóvel na faixa de renda mais baixa, para quem aderisse ao programa. Um impulso ainda maior à demanda.

Hoje, pelas restrições fiscais enfrentadas pela União, podemos observar um maior contingenciamento do governo, inclusive o adiamento da fase 3 do programa MCMV.

Recentemente foi aprovado na Câmara dos Deputados um projeto de lei que aumenta a remuneração do FGTS, o que fatalmente aumentará o custo do funding para o segmento e, consequentemente, restringirá a demanda. Essas políticas não foram boas, teremos muitos desafios à frente. Repetindo a história, essa crise afetará a construção civil, diminuindo também as vendas de insumos a níveis insustentáveis. O mais provável é que as incorporadoras financiem seus empreendimentos diretamente aos consumidores e desacelerem novos lançamentos.

Todo gestor de investimentos sabe que corre risco em qualquer transação. É importante estar atento às boas oportunidades dentro de um cenário que parece caótico, pois elas existem. A atenção, o conhecimento da história do mercado financeiro e a disciplina são fundamentais neste cenário. A volatilidade do mercado acionário deve ser acompanhada com cautela, para não cairmos em tentação, sem termos a real avaliação do risco.

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