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Bolsa, Investimentos
Por que a Bovespa quer a Cetip?
2 de março de 2016 at 10:44 0
bovespa cetip
Após alguns meses, a Bovespa faz nova tentativa de compra da Cetip e parece que poderá ter mais sucesso, pois as péssimas condições de mercado em geral, com a conjuntura caótica dos preços das ações, favorece as fusões. O presidente do Conselho de Administração e o presidente executivo da BM&FBovespa divulgaram uma carta aberta aos acionistas explicando os principais benefícios que resultariam dessa fusão. Segundo a carta, o resultado seria uma maior eficiência operacional. Apesar das tentativas da Bovespa em aumentar o seu share, ela continua tendo dificuldades de penetração neste mercado de renda fixa. A Cetip também não conseguiu evoluir em outro mercado além do que atua, pois é a única empresa nacional que poderia se constituir de fato como uma Bolsa concorrente. Então, por que é importante a Bolsa consolidar o mercado da Cetip que domina o mercado de renda fixa ha décadas? São vários pontos positivos e outros negativos sobre essa compra que podem dizer se ela será benéfica ou não: No lado positivo, a fusão causará um fortalecimento da Bolsa brasileira, onde consolidaria os dois principais ativos, ações e renda fixa. Assim, poderá melhorar a eficiência de garantias para uma só clearing que se comunica, gerando maior possibilidade de coberturas de margens através de dois tipos de garantias: de ações e renda fixa. Isso daria um incremento de receitas de sinergias operacionais. Certamente aumentaria a lucratividade das duas através de outros serviços consolidados. Pelo lado negativo, eu diria que o ponto principal está na cultura da Bovespa em fazer os mercados baseada em sugestões teóricas, como vimos acontecer com o mercado de "over the counter" ou mercado de balcão, assim como aconteceu com a BBF - Bolsa Brasileira de Futuros. Estas duas e únicas aquisições das quais me lembro, tiveram simplesmente o objetivo de retirar o player ou concorrente do jogo, usando o argumento de que a consolidação seria benéfica ao mercado. O que vimos foi exatamente o contrário, pois a Bolsa comprou a SOMA (nome desta Bolsa de balcão, que foi desenvolvido pela Bolsa do Rio de Janeiro em comum acordo com as outras Bolsas regionais), com o objetivo de ser uma ponte para empresas que ainda precisavam de maior incentivo educacional para amadurecer como Cia. aberta, mas a SOMA foi enterrada em uma gaveta e a Bovespa patina até hoje, quase 10 anos depois, na implantação do Novo Mercado que foi idealizado pela mesma. Não quero polemizar a questão da SOMA, pois sempre fui um crítico desta aquisição pela Bovespa e o resultado fala por si só: é incontestável o fracasso do projeto da Bovespa para pequenas e médias empresas. O caso da BBF do Rio de Janeiro também teve o mesmo caminho: igual objetivo de consolidar e fortalecer o mercado, mas o projeto foi enterrado. Quero crer que o caso da  Cetip poderá ter um fim diferente das demais aquisições, embora não seja o que demonstra o passado. Se acaso for a estratégia da Bolsa somente retirar o concorrente player do mercado, poderemos ficar preocupados com as consequências do monopólio. Acredito também no fato de que a vontade da oferta de aquisição pode ter sido motivada pela percepção futura dos mercados globais, diante da situação econômica dos países que vêm se dividindo no primeiro mundo buscando equilíbrio econômico, como: EUA, Inglaterra, Canadá, Suíça, Alemanha. Esses são os chamados países desinflacionários, ou mesmo que precisam fabricar um pouco de inflação. Eles atrairão cada vez mais investidores para suas bolsas, pois cada vez menos investidores encontram razão para investir em bolsas locais e não globais, pois hoje podemos comprar empresas nacionais em bolsas de NY, Londres ou Zurique. Já nos países chamados inflacionários, como o nosso e outros latinos, a principal atratividade por um bom período será a renda fixa, pois estes tenderão a pagar taxas de juros muito mais atraentes que o chamado primeiro mundo em termos de estabilidade econômica. O mais racional é que os investidores busquem a Equity: bolsas de primeiro mundo e renda fixa de segundo e terceiro, pois como sabemos o juros negativo já é uma realidade contemporânea e acentuará esta diferença agora. Assim, pode ser que a Bovespa esteja vislumbrando perder mercado - não pela concorrência interna, mas sim pela demanda dos investidores que poderão se deslocar para as bolsas de países mais desenvolvidos podendo investir diretamente em empresas locais. Os investidores são mais atraídos pelas vantagens de se estar em um mercado com melhor qualidade de informação, mais liquidez e melhor capacidade do acionista minoritário se defender. Vejamos o exemplo do impacto da derrocada da Petrobras, cobrando indenizações via grandes escritórios de advocacia para defenderem investidores consorciados. De qualquer forma, a compra da Cetip pela BM&FBovespa poderá ser o equilíbrio entre esses pontos positivos e negativos, abrindo uma possibilidade real de que a fusão poderá ser benéfica ao mercado como um todo. Fazer o simples nos dias de hoje pode ser a maior virtude de uma empresa. Se a Bovespa adiquirir a Cetip para ganhar cultura e tiver a capacidade de entender a diferença entre as duas  empresas, poderá vir a ter sucesso. Vimos isso acontecer com algumas empresas, como exemplo o Itaú, Unibanco, Ambev e muitas outras que souberam ter a humildade do aprendizado e adaptar a realidade dos projetos funcionais e não sonhos de primeiro mundo. Welcome to the reality, Brazil.
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Bolsa
A possível fusão das bolsas
5 de novembro de 2015 at 09:59 0

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Onde há fumaça, há fogo. Por enquanto a notícia de uma possível fusão entre a BM&FBovespa e a Cetip é apenas boato, o que obviamente não poderia ser confirmado dado que nestas negociações o sigilo é fundamental, mas a experiência diz que quando vaza para a imprensa é porque algo está acontecendo.

A Bovespa e o Cetip trabalham com operações distintas e concorrem somente no segmento de renda fixa que hoje, cada vez mais, tende a aumentar dado o ambiente macroeconômico. Já por outro lado, o Equity tem caído cada vez mais pela mesma razão.

Pessoalmente não vejo com bons olhos a fusão, pois o mercado hoje já carece de uma maior competitividade e de produtos inovadores. Ao longo dos anos a Bovespa, como empresa de Cia aberta, não deu grandes contribuições neste campo além do fracasso de incremento de investidores na bolsa de valores. Ao longo de 5 anos de operação nesta etapa em que a Bovespa se encontra hoje, o número de investidores se mantém congelado, por volta de 500 mil.

Sem dúvida que a BM&FBovespa foi um bom negócio para seus acionistas, mas para corretores e empresas listadas tenho minha dúvidas e, para confirmar, basta ver a quantidade de Corretoras que fecharam as portas. O crescente fechamento de capital e cancelamento de registro de empresas listadas falam por si só. As mais significativas foram a Corretora Souza Barros, com 50 anos de atividade e a Cia. Souza Cruz que anunciou fechamento de capital.

A última vez que me recordo de uma compra e aquisição, foi a da SOMA, sociedade entre operadores mercado de acesso, que tinha como objetivo um modelo de plataforma nos moldes do  NASDAQ e seria o acesso para pequenas empresas de middle market e startups de tecnologia. Até hoje a Bovespa não conseguiu fazer decolar através do Bovespa Mais, criado para substituir a SOMA, um modelo que funcionava e que foi comprado, enterrado e está até hoje escondido em uma gaveta qualquer. Meu receio é que o Cetip seja descaracterizado totalmente, pois com em razão do seu tamanho e da forma que opera o engavetamento não é uma opção viável.

A fusão poderia ser considerada boa, mas para quem? Para o mercado com certeza não, pois corremos o risco de termos um monopólio, com uma só bolsa fazendo as duas atividades. Nós já vimos este papo de mercado grande e único. Para que e por quê?

Na realidade não está faltando dinheiro para investimentos nas duas bolsas, mas sim uma gestão direcionada mais ao mercado, além de produtos mais condizentes com a nossa realidade, resolvendo o acesso de pequenas e médias empresas que hoje só têm o mercado de renda fixa e o crédito para acessar.

É muito pouco ainda termos na Bovespa apenas 500 mil, quando a meta eram 5 milhões de investidores pessoa física, em 10 anos.

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