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Juros

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A difícil decisão do rumo dos juros.
9 de dezembro de 2015 at 16:09 0
alta dos juros Com a Ata do Copom confirmando de manutenção do patamar dos juros atual e sinalizando uma vigilância do BC em relação à inflação, passando a percepção de que não está assistindo passivamente a persistente manutenção dos altos índices de inflação, mesmo que isso implique em maior redução da atividade econômica, voltou a reinar a discussão novamente sobre qual será  o rumo dos juros.

Já existe uma corrente de economistas que começou a exercitar a possível alta do juros em função da Ata do Copom, principalmente aqueles mais adeptos da teoria ortodoxa, que pregam a qualquer cenário a perseguição do cumprimento das metas de inflação, utilizando sua principal arma que é a alta dos juros para que a economia rompa este ciclo inflacionário através de um choque na oferta e na demanda, cujo resultado seria a queda dos preços.

Sem dúvida que, tecnicamente, a tese é perfeita e sempre que a contrariamos pagamos um alto preço futuro por este relaxamento. Vejam o que aconteceu com a economia, que vinha em um ciclo de expansão tipicamente desenvolvimentista e heterodoxo, cujo resultado está aí: a economia se desarrumou fortemente até porque ancorou o crescimento em crédito e estímulo ao consumo, com alongamento de prazo.

Assim, os defensores da política econômica ortodoxa têm a política monetária como pilar dos ajustes da situação macroeconômica em que o BC não é, nem pode ser, parceiro de crescimento, mas sim controlador da inflação, induzindo ou não os mercados e a atividade real a fazerem seus movimentos de investimentos. Isso, por credibilidade, assim como funcionam as economias mais desenvolvidas como a dos EUA, com o Fed (a mais de uma ano e meio) somente fazendo menção sobre sua atuação na possibilidade de subida dos juros gradualmente, em função da percepção de que o aquecimento da atividade industrial e comercial comecem a contaminar a inflação. Assim, as curvas de juros mais longas capturam estas tendências e se movimentam já com um impacto sobre a economia de empréstimo, como está acontecendo. Este é o movimento clássico.

Voltando ao Brasil, não podemos desconsiderar vários fatores que podem contrapor esta teoria, como o ambiente político adverso e como o ciclo de recessão, assim como uma boa dose de predominância fiscal, que inegavelmente se encontra instalada nos dias de hoje. Mesmo que o BC não goste de considerar este aspecto, pois joga contra ele, dá a entender que poderá ficar neutro, o que não é bom.

Além de que, quando o mercado incorpora o conceito de predominância fiscal, contribui para neutralizar mais ainda a política monetária e fica na dependência, predominantemente, do ajuste fiscal, que acaba na pauta política incluindo as reformas e aumentos de impostos.

A questão agora é: se houver alta dos juros, caso o BC decida retomar, até que ponto seria vista como um impacto redutor da demanda de consumo com consequências na queda da inflação? Ou será  vista como um realimentador de mais um repasse de preços, pelo custo do crédito em geral? O aprofundamento da recessão e o próprio aumento dos juros pode deprimir ainda mais a combalida economia e não surtir o efeito desejado de buscar o centro da meta de inflação e ainda implicar em um custo social muito mais elevado do que já se encontra.

No meu ponto de vista, não vejo como uma alta de juros poderá contribuir para uma já tão combalida economia, pois o ponto não é ser ortodoxo ou heterodoxo. Não estamos em um ambiente de pleno exercício de eficácia das ferramentas de juros e câmbio, mas sim em um ambiente maligno, no qual  já existe uma contração das linhas de crédito, como também os spreads bancários estão muito acima de uma situação de normalidade. Isso faz com que  a economia como um todo perca a sua dinâmica e impacte fortemente a cadeia de fornecedores e  consumidores. Este ponto é relevante, pois poderá o aumento de juros induzir a recompor as margens das empresas já tão impactadas pelas taxas altas dos empréstimos.

Outro ponto relevante é o setor imobiliário, que funciona através da captação de poupanças e a falta de atratividade tende a piorar a competitividade e aumentar o rombo da Caixa Econômica, que detém algo em torno de 70% do mercado imobiliário. O déficit dos saques da poupança estão em torno de R$ 70 bilhões. Este também é um problema sério que deverá ser levado em conta, pois vai aumentar o déficit do governo.  A Caixa Econômica capta estes déficits em CDB e LCI, que são taxas Selic, gerando um spread negativo em função dos empréstimos antigos já contratados em bases de captação. (TR +6% a.a).

Vocês conhecem aquela história do homem que estava ajustando a porca no parafuso e pensou “vou dar mais uma atarrachada” mas daí a porca espanou? Este é o dilema maior do BC: se apertar demais a porca pode espanar, mas se não fizer nada pode ter uma alta da inflação com pouca margem de controle.

Solução à vista? Só um choque de credibilidade.

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Um novo cenário inesperado.
3 de dezembro de 2015 at 14:20 0
crise
Está difícil fazer previsões econômicas e políticas, dado o fator de imprevisibilidade. Já começávamos a acreditar que estávamos começando a enxergar as variáveis possíveis, como comentei em outro artigo intitulado House of Cards, pois dentro do meu cenário sempre considerei a estabilidade financeira bancária, além das reservas cambiais como um diferencial na nossa crise que se aprofunda e, sem dúvida, entrará na "Hora da Verdade" no primeiro trimestre de 2016, com um aprofundamento e com acúmulo dos fatores externos que não ajudam em nada a situação.
Agora a crise será turbinada por mais desdobramentos alheios ao mercado. Mal recuperamos o fôlego sobre as notícias vinculadas à Lava-Jato e veio a notícia da aceitação por parte do Presidente da Câmara da abertura do processo de impeachment, que muda o quadro radicalmente. É certo que se desenham vários cenários, como já vínhamos comentando, de que a solução econômica passará pelo cenário político, cuja deterioração certamente acontecerá com a perda de mais um ou dois Investment Grades, em função do recrudescimento da crise no primeiro trimestre de 2016, apelidada pelos economistas de Hora da Verdade.
O que podemos esperar em relação a investimentos no curto prazo? Não está difícil apostar em uma nova alta do dólar, mesmo nestes patamares. Possivelmente poderemos vê-lo acima de R$ 4,50  já no primeiro trimestre de 2016. Quanto à situação dos juros está mais difícil de avaliar, pois o aprofundamento da recessão, quando poderemos considerar um possível PIB negativo no ano que vem por volta de até 3%, não deixa muitas opções de uma nova alta de juros, com a inflação em patamares parecidos com 2015. Uma grande dose de incerteza sobre os acontecimentos políticos, agora turbinados pela decisão de Cunha, poderá deixar o governo e o BC com pouca margem de manobra e refém da inflação em alta, desemprego em alta e aumento de déficits de todas as naturezas.
A economia será o ponto de inflexão para a presidente da República, pois a insatisfação popular será alimentada ou não pelos resultados econômicos que, em caso de piora - o que é muito provável, poderão incendiar novamente as ruas. Cunha jogou gasolina na fogueira.
Outro ponto grave é que, até então, os investidores estrangeiros efetivamente não retiraram recursos do país. Agora, em função destas variáveis internas e externas acima mencionadas, somadas à incerteza política dos nossos líderes e mais o que pode acontecer pelo lado da Lava Jato através das novas delações, serão geradas mais incertezas no mercado.
Os próximos capítulos de House of Cards mostrarão o clímax total a partir de agora, como já venho falando em outros artigos. A melhor solução será a resolução, pois o pior dos mundos seria nada acontecer.
Acho que vem chuva por aí, vamos procurar um bom abrigo para não levarmos um raio na cabeça.
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“A Hora da Verdade”
26 de novembro de 2015 at 18:18 0

A Hora da Verdade Baseados nos últimos eventos, como a alta da inflação, a queda do PIB, a dívida pública, a expectativa de queda do Investment Grade, os juros do FED, a Selic e agora as dificuldades na conjuntura política para aprovar os ajustes, o mercado acredita que a recessão deverá se aprofundar no primeiro trimestre de 2016 e chamam este momento de “A Hora da Verdade”.

Por tudo isso e pela sazonalidade de final de ano, onde o 13º aquece a economia das vendas no varejo, acredita-se que no primeiro trimestre de 2016 a inadimplência deverá aumentar significativamente, com squeeze de liquidez de crédito.

Ontem a taxa Selic foi mantida pelo Copom em 14,25%, apesar da decisão não ter sido unânime. Dois diretores votaram 14,75%. Mas parece, pelo texto divulgado, que ela não se manterá por um período prolongado e o mercado poderá voltar a precificar mudanças nos juros, no curto prazo. Sem dúvida isso nos mostra que há uma mobilização para a contenção dos ajustes de preços.

Acho que o que acabou prevalecendo e que poderá dar continuidade à manutenção dos juros será a queda da atividade econômica como um todo.

A sensação da população sobre a economia neste primeiro trimestre, onde despesas de final de ano e as de início, como as escolares, impostos dos automóveis e outros pesam mais, foram refletidas pela Anbima para definir a preocupante previsão. O endividamento das empresas e aumento do desemprego também colaboram muito para a insegurança.

Mas o cenário é importante para as ações políticas e do Banco Central, no que diz respeito aos preços. Se o bem-estar da população piora, a pressão será enorme para que atitudes sejam tomadas mais rapidamente, pois estaremos diante de um impasse. Nos resta essa esperança de não precisarmos chegar ao fundo do poço para voltar a crescer.

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Inflação x Empresas
3 de novembro de 2015 at 17:44 0

inflação

Os jornais de hoje mais uma vez trazem a o cenário de como a crise política está afetando a economia brasileira. Segundo alguns especialistas, essa crise política afeta mais os mercados do que a crise econômica em si, já que a desconfiança se traduz em inflação no patamar de 10% e a taxa de câmbio no absurdo patamar de R$ 4,00.

Sobre a inflação as estimativas continuam a piorar, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central (BC). O IPCA este ano subiu de 9,85% para 9,91%. Para 2016, avançou de 6,22% para 6,29%. O Banco Central prevê manter as taxas de juros estáveis em 14,25 pelo menos até julho/2016, apesar da alta da inflação. Já o mercado tem visto esses números como otimistas, acreditamos em uma alta maior do que a estimada pelo governo.

Por causa da inflação e da alta do dólar, muitas empresas estão extremamente endividadas e, para não quebrarem ou evitarem demissões, estão negociando rolagem nos pagamentos dos compromissos firmados com os bancos e o perdão no descumprimento de algumas cláusulas contratuais. As instituições financeiras, por sua vez, estão fazendo de tudo para evitar a inadimplência.

Já o preço do dólar é uma oportunidade para que investidores estrangeiros apostem no mercado nacional. Concordo com as opiniões de que o Brasil está muito barato, em termos de mercado, e investir agora no Brasil é ter a possibilidade de retorno muito alta.

As startups brasileiras de tecnologia, por exemplo, perderam em 4 vezes o poder de compra, entretanto o investimento em dólar está em apenas 1 quarto do que costumava ser. Acredito que os investidores que têm condições de aplicar no mercado brasileiro devem vir, dentro dos próprios critérios estabelecidos, pois quando a crise política se resolver, certamente todos nos beneficiaremos.

 
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A encruzilhada dos juros
21 de outubro de 2015 at 17:36 0

juros

A penúltima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de 2015 é hoje e não acredito que teremos grandes surpresas, pois a agenda econômica ou da política monetária está a reboque das agendas políticas.

Acredito na manutenção dos juros, até porque a percepção de aumento da SELIC agora teria pouco ou nenhum benefício efetivo de contenção da inflação, que já beira os 10% este ano e possivelmente ficará bem longe da meta estabelecida pelo BC para 2016, que eu estimaria entre 7% a 8%.

Um aumento de juros no momento atual, em que estamos perto de 3% de PIB negativo e aumento acelerado de desemprego, faz com que o Copom fique em uma encruzilhada no que se refere ao objetivo principal do modelo de Meta de Inflação ou Target Inflation - como é mais conhecido.

O aumento de juros é feito com objetivo de ancorar as expectativas futuras da inflação, que é 5,4% pelo BC (mas o mercado já estima em 6,72%) para 2016 e 4,6% para 2017. Dentro deste cenário o BC só terá duas escolhas daqui para frente:

1)    Aumentar os juros, como manda o figurino: acho pouco provável, pois o efeito de desaquecimento da economia, que já é muito grande, só traria mais perda de arrecadação além da percepção de um rombo maior no déficit orçamentário e, com certeza, acabaria impactando em aumento de dívida/PIB trazendo questionamentos indesejáveis sobre a real capacidade de endividamento da União.

2)    Em futuro próximo, poderia aumentar a meta de inflação: 5,5% 2016 estaria num patamar mais realista, pois a banda alta poderia ir até 7%, pelo que estamos podendo enxergar hoje.

Assim, o que se pode esperar do BC em relação ao Copom é, através do relatório, dar mais discloser para o mercado de que a situação continua sendo bem administrada e sob controle, apesar dos problemas sazonais que têm induzido a alta da inflação. Como exemplo, o reajuste cambial nos preços, além dos preços administrados e, assim, com uma visão mais realista do que se pode fazer diante de um intrincado quadro político que lhe dá pouca margem de manobra.

O BC sabe que sem uma política fiscal austera ficará difícil trabalhar somente com os instrumentos clássicos: juros, câmbio e restrição de crédito.

Com tudo isso, criou-se uma expectativa dos mercados não em relação ao aumento de juros, mas sim em relação ao modelo de Target Inflation.

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Meta de inflação
6 de outubro de 2015 at 16:41 0

meta da inflação

O tema da inflação está ressurgindo nos debates econômicos. Os modelos discutidos pelas diferentes linhas de teorias econômicas, tanto a ortodoxa como heterodoxa, têm dado o tom das possíveis soluções para atual crise econômica. Qual seria o modelo ideal? Aumento de juros, controle cambial, diminuição de juros para aumentar a atividade econômica, aumento de impostos para fechar o orçamento e por aí vai.

 Nesse domingo uma economista chamada Monica Baumgarten, do Instituto Peterson de Economia Internacional, propôs voltarmos para o modelo de âncora cambial com âncora fiscal abandonando a meta de inflação, pois segundo a matéria podemos ter inflação na ordem de até 20% a.a. caso não consigamos arrumar a casa. Sem dúvida começam a aparecer as mais variadas teses econômicas e de diversas correntes, que só aparecem em função da incógnita sobre o futuro. Inicialmente vamos NÃO pensar nessa hipótese.

O modelo de target inflation, ou meta de inflação, é um modelo baseado nos instrumentos clássicos da política monetária através de juros, dívida pública e câmbio. Estes instrumentos que são utilizados pelo BC fazem o controle da demanda de consumo e são os indutores de expectativas projetadas no comportamento dos mercados, como maior ou menor liberdade de compulsórios de bancos para aumentar a base de crédito na economia, além de outras ferramentas econômicas de maior ou menor calibre, como também até mesmo o controle cambial quando se faça necessário. O nosso modelo era uma mistura dos dois: ortodoxo e o heterodoxo, sendo o BC fazendo o ortodoxo e o ministro Mantega o heterodoxo. Agora parece o modelo foi unificado com o Ministro Levy.

Realmente é difícil de imaginar que as coisas dessem certo em relação ao controle da inflação, pois não se combinam tanto na tese econômica como no resultado, porque a política econômica não tem uma grande efetividade no controle quando as portas do crédito são abertas por outras vias, principalmente por subsídios diversos e aumento considerável de estímulos de aumento de consumo.

Não existe vencido nem vencedor em teoria econômica, pois elas funcionam quando são aplicadas em momentos corretos. A teoria econômica mais ortodoxa serve para dar âncora ao desenvolvimento, se colocada em momento adequado.

O risco atual de termos um repique de inflação acima das expectativas ou das previsões é real, pois o fator do imponderável cenário político embute um risco de perda de eficiência da política monetária como política de controle.

Como assim? A maioria dos economistas acredita que a inflação deverá cair com o baixo consumo: além da queda da renda, o aumento do desemprego propiciam uma maior queda na demanda. Diria que este é um cenário básico e bem racional, caso as coisas se arrumem no campo político.

Necessariamente a baixa demanda não garante queda na inflação, basta ver a economia dos hermanos argentinos em que o tamanho foi reduzido a um terço do PIB ao longo dos anos de devaneio econômico da era Kirchner, mas a inflação real se mantém acima dos 20%, pela falta de elasticidade na demanda de consumo, além das restrições e das dificuldades da economia de mercado atuarem em contraponto ao aumento de preço. Tanto lá como aqui, somos das economias que mais protege as suas indústrias via Impostos de Importação e outras barreiras comerciais.

Os mercados já precificaram os juros e o dólar, mas ainda não a inflação, aí o IPCA, IGPM e outros indexadores poderão se tornar uma boa opção para efeito de investimento. Acredito que os juros deverão se manter ou subir na margem caso o cenário seja de controle da situação e do câmbio. Neste ponto as medidas ortodoxas poderão ter baixa eficiência em controlar a inflação via aumento de juros, sem gerar mais déficit e aprofundamento da recessão.

Eu penso que teremos tanto o IGPM como o IPCA surfando em índices parecidos com 2015, perto da casa de dois dígitos.  Os mercados trabalham com estimativa de 5,5% a 6% e a meta de inflação que o governo trabalha ainda está em 4,5% para 2016.

Todos os impostos, CPMF, CIDE, aumento de combustíveis e etc, de uma forma ou outra virão e são inflacionários, pois serão repassados aos preços finais. Máxi cambial + aumento de impostos = mais inflação. Tomara que a fórmula esteja errada.

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Agenda apertada
30 de setembro de 2015 at 18:57 0

agenda apertada

A desarrumação na economia, pela alta abrupta do câmbio em curto espaço de tempo, vai trazendo consequências por parte, principalmente, do endividamento das empresas que tomaram recursos através de corporate bonds, fazendo com que as mesmas tentem a recomposição de caixa para fazer frente ao aumento dos encargos da dívida.

A Petrobras anunciou o aumento dos combustíveis com este objetivo, pois é uma das empresas mais endividadas do mundo e ela precisa de recomposição de caixa. Fala-se em 6.5 bilhões! Sem dúvida o mercado gostou, pois além de dar uma clara sinalização de certa autonomia operacional, apesar de inflacionário esse aumento, se tem a percepção de que não deverá impactar tanto nos repasses, pela fraca demanda.

Até nisso temos uma situação esdrúxula, pois o petróleo está nos níveis mais baixos no mundo e mesmo assim precisamos aumentar o preço internamente. Este é um dos efeitos da alta do dólar sobre o endividamento, que acaba sendo do descolamento de preços das commodities pela necessidade de caixa. Neste ponto poucos poderiam fazer o mesmo, pois a concorrência atuaria como regulador de preço. Enfim, é o que temos de melhor.

Continuo apostando no tema que citei outro dia no artigo "remédio amargo", que é a questão da CPMF que acabará passando no Congresso pela goela abaixo, pois o tempo é curto e não existe outra proposta na mesa para fechar as contas do orçamento.

Além do mais, na situação atual, acredito que nem um outro governo (caso viesse) teria tempo para implementar alguma medida de eficácia real. Basta ver que o ministro Levy não muda a conversa na sua peregrinação, afirmando que este é o plano A e o B e o C. É o que tem na mesa, pois de fato corte de custo tem uma dificuldade maior. Sabemos que precisa de um prazo maior para implementação, além de cortes sempre poderem ser contestados juridicamente pelas classes que não querem perder seus direitos. Pode ser que eu me engane, mas daqui a pouco a grande maioria aceitará o CPMF como um mal menor e não como o maior.

Além disso, a redistribuição de cargos nos Ministérios para o PMDB passa a sensação de que a presidenta se fortalece contra o cenário de impeachment, pois essa questão está justamente nas mãos do PMDB. Assim, também a substituição do Ministério da Casa Civil, é uma demanda de parte do PMDB e do próprio ex presidente Lula por um político de maior aceitação pelo PMDB. A agenda política e econômica está bem apertada para o Executivo, pois corre contra o relógio inclusive para mostrar uma sinalização ao mercado de que a crise está sendo administrada ativa e não passivamente, pois ainda tem as agências de risco rondando os novos rebaixamentos de risco.

Esses próximos dias serão cruciais para a agenda política econômica que pode vir marcada por novas surpresas. Quem sabe a luz no final do túnel não seja um trem na contramão.

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O endividamento das empresas
29 de setembro de 2015 at 13:12 0

endividamento das empresas

As empresas brasileiras estão vivendo um momento extremamente delicado. O endividamento está chegando a níveis insustentáveis. Isso quer dizer que não conseguem manter o fluxo de caixa – a saída de dinheiro está bem maior do que a entrada.

Segundo matéria que li no Valor, uma das agências de risco que faz as análises do grau de investimento dos países, a Fitch, calcula que a alavancagem média das empresas brasileiras deve fechar o ano em 4,5 vezes. E isso coloca em estado de alerta máximo todo o mercado financeiro, desde os analistas aos investidores. Para alguns outros pesquisadores, o endividamento x o lucro das empresas já está em 5 vezes. Ou seja: as empresas devem 5 vezes mais do que estão lucrando. O risco de insolvência das empresas que estão neste nível de endividamento é muito grande. A desvalorização do Real, em 12 meses, já chegou a 70%. Isso significa que as empresas que tem dívidas em moeda estrangeira está com a capacidade de 1/3 do pagamento dessas dívidas. Isso gera a incerteza do mercado que para de investir nas empresas brasileiras. É uma bola de neve que não para de crescer, com os juros e o dólar em disparada e a possibilidade da perda real do grau de investimento pelas outras agências. O governo precisa encontrar uma saída urgente, além dos ajustes fiscais, o corte de gastos e, quem sabe, a venda de ativos, para controlar esse cenário antes que ele fique pior. Os números de desemprego assustam. Os empresários e as famílias brasileiras estão todos no mesmo barco da crise política e econômica pela qual estamos passando. Vender os ativos, com preços atrativos (pelo fato da valorização do dólar), pode ser uma saída inevitável para atrair novamente os investidores estrangeiros e voltarmos a crescer.
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O dilema dos juros
23 de setembro de 2015 at 15:58 0
juros Com o momento político-econômico se agravando em função da queda de braço entre os poderes Executivo e Legislativo, há a possibilidade de agravamento da crise cambial e isso faz com que haja uma mudança nas expectativas em relação aos juros.

Com a curva futura dos juros apontando para 16%, começa a se delinear uma possível projeção de inflação mais aquém da meta estimada pelo Banco Central para 2016. A projeção do futuro embute um clima de descrédito quanto à possível queda da inflação dentro da meta estimada.

A corrente que está formada pelo fluxo da incerteza no âmbito político-econômico vem fazendo com que o dólar seja apreciado constantemente e, assim, acabe impactando na expectativa futura dos juros, apesar da piora considerável na demanda de consumo. O ciclo vicioso está formado.

O dilema da subida dos juros, na atual situação, pode agravar bastante o déficit brasileiro, além de colocar mais gasolina na fogueira. No caso específico do sistema de crédito de habitação, cria um descasamento fantástico. O sistema de poupança vem batendo recordes de saques, principalmente pela falta de atratividade, além de o volume de operações ter crescido de forma agressiva principalmente pela Caixa Econômica (em que saímos de 4% a uma década para 20% do sistema).

Hoje, com a subida dos juros e com os saques crescentes da poupança, os Bancos emitem CDB ou LCI para financiar este déficit, fazendo com que tenham um spread negativo em torno de 3% entre o captado em títulos fora da poupança e o crédito já dado em base de TR. Na realidade o problema é de todo sistema de poupança, apesar de a Caixa ser mais contundente, pois o programa Minha Casa Minha Vida teve uma expansão e representatividade como programa de governo.

O contexto hoje é bem diferente de outros tempos em que o crédito imobiliário não era tão significativo. A subida dos juros, caso se tenha necessidade de usar o crédito imobiliário como política monetária, fará com que o déficit orçamentário, além dos títulos públicos, aumentem significativamente.

Veja esses gráficos:

jurosgrafico poupanca 02

A dimensão do dilema: a possível alta dos juros, caso haja necessidade, poderá fazer um grande estrago nas contas públicas e o não aumento dos juros poderá ser interpretado pelo mercado, já bastante nervoso, como um certo abandono das metas de inflação.

Uma coisa é certa: especular neste momento com juros e dólar é muito arriscado. O conselho é ser conservador em relação aos seus investimentos, sem perder a visão das oportunidades.

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Câmbio, Juros, Política
Reflexões do feriado e a política econômica brasileira
8 de setembro de 2015 at 16:45 0
Reflexões do feriado: a política em deterioração

Reflexões do feriado: a política em deterioração

Algumas notícias e artigos me chamaram a atenção neste fim de semana de feriado prolongado. Obviamente todas citam o nosso momento econômico e político. Uma das que mais me chamou atenção foi um artigo no Estadão, cujo título é "A crise de Dilma vai a Turquia". O artigo, além de chamar a atenção para o momento político e econômico bastante complexo, cita alguns comentários na reunião do G-20, realizada em Ancara, cidade Turca. Vou relatar alguns trechos deste artigo, pois relata a nossa atual realidade, vista pelo lado de fora, dentro da análise do cenário global esboçado pelos economistas do FMI, como: "condições políticas em deterioração", "no Brasil, a fraca confiança de empresários e consumidores, no meio de condições políticas difíceis, e o necessário aperto da política macroeconômica devem enfraquecer a demanda interna, com o investimento caindo de forma particularmente rápida". O Brasil foi citado por todas as suas dificuldades que são momentâneas, mas maiores que de seus pares emergentes em função, principalmente, de "condições políticas e deterioração". Outra pequena matéria, que não me passou desapercebida, foi sobre uma pesquisa oculta feita com políticos do PMDB em que se constatou que 50% já apoiam o impeachment. O que significa isto? Cada vez mais temos a percepção de que hoje o PMDB é quem realmente vai dar as cartas para decidir o futuro da Presidenta Dilma. Além disso, a fala do vice Michel Temer sobre a inviabilidade de governabilidade com baixa popularidade, também noticiada durante todos os meios de comunicação, deixou claro que existe um possível movimento de desembarque. Meu entendimento é que o mesmo já se coloca como uma real via alternativa de transição pois, em tese, o Vice não deveria se posicionar em público. E não é só uma forma de mostrar insatisfação, mas sim de se posicionar diante do possível desenrolar das decisões de aprovações - ou não - das contas, que sairão nos próximos dias. Enfim, foi um feriado bastante movimentado. O aspecto de mercado que me chamou a atenção nessa semana: A persistente alta do dólar tem chamado a atenção, pois as tesourarias dos grandes bancos locais e estrangeiros começam a perceber que os sinais emitidos pelo Banco Central de que há tendência de queda das taxas de juros já não é a mesma percepção do mercado. O BC ofereceu  títulos federais na semana passada, em um leilão de taxas pré-fixadas, mas o mercado pediu um prêmio mais alto. Assim, o BC cancelou o leilão e já avisou que vai oferecer leilões de Swaps em dólar, para diminuir a volatilidade e manter a paridade mais equilibrada. Isto não é um bom sinal, pois as tesourarias já começam a pedir um prêmio alto na dívida local, dado o risco institucional e o Investment Grade em questão. O problema é que não conseguimos enxergar o que é o preço técnico do dólar, se é que tem. Tecnicamente pode ser R$ 4,00 ou R$ 4,50, depende do grau de   deterioração econômica e política que agora passam a andar de mãos dadas. Isso significa que não tem nada certo em relação ao dólar e juros. Os juros, que até então aparentavam calmos e já se esperava uma possível queda no primeiro trimestre de 2016 - o que parecia ser suficiente para manter a meta de inflação sob controle, começam a despertar desconfiança caso o dólar continue nessa escalada de preço. Somado a isso, o prêmio mais alto pedido pelo mercado é uma sinalização preocupante. A indefinição na área política e nos ajustes necessários para a contenção de um déficit minimamente aceitável, criam uma situação bastante incômoda para o BC controlar a corrida para o dólar. Pode ser que só vender Swap não seja suficiente para acalmar os agentes, que começam a duvidar do equilíbrio econômico e é aí que as coisas se complicam, pois isso vai demandar vendas spot do dólar e alta de juros. O mercado está assustado, transmite sua inquietação através de preços dos ativos e sabe que, se não tivermos rapidamente uma solução para o embrulho político/econômico, as coisas podem ir para caminhos bem mais difíceis de serem resolvidos. Então, só restará a política econômica ortodoxa, com juros altos e controle de câmbio, ocasionando a queima de reservas cambiais. Já vimos isso antes.
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