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Sustentabilidade
Nova gestão na Nestlé: Ousadia e grandes mudanças
5 de janeiro de 2017 at 12:13 0

2017-01-05-card-li-saulApesar de inesperado, o anúncio do novo CEO da Nestle, Ulf Mark Schneider, não foi exatamente uma surpresa. Desde junho, quando Peter Brabeck-Letmathe decidiu se aposentar, a empresa decidiu que era hora de reformar os cargos executivos e apostar em uma nova política que acompanhe as demandas do mercado e privilegia o consumo de alimentos saudáveis.

É interessante que a decisão da Nestlé não é única, outras empresas têm feito mudanças semelhantes. A Pepsico foi uma das pioneiras e já há uma década desenvolveu o programa Performance com Propósito, que concilia o crescimento dos negócios da empresa com sustentabilidade. Uma das inovações mais interessantes é a mudança no portfólio de produtos disponíveis nas máquinas de vendas automáticas, as famosas vending machines inclusive com a criação de uma marca exclusiva para essas máquinas: Hello Goodness. O compromisso não é apenas com a saúde dos consumidores, mas com aproveitar um nicho de mercado que, mesmo em retração, movimentou US$ 4,5 bilhões em 2014.

A nova geração de consumidores é preocupada com toda a cadeia produtiva e tem acesso a informações que interferem no processo de compra. Os consumidores vão a mais de uma loja, preferem produtos locais e menos processados, com menos açúcar, gordura e sal. Lançar marcas com essas características também não é uma alternativa viável do ponto de vista econômico, o que leva as grandes empresas a comprar marcas menores e conhecidas do público local, como a Jasmine, por exemplo. A empresa, que começou com uma operação simples na cozinha de casa, faturou R$ 150 milhões em 2014 e hoje faz parte de um conjunto de empresas japonês que fatura mais de US$ 14 bi por ano.

Com 150 anos em operação, a Nestlé é uma gigante que se reinventa de maneira assombrosa de tempos em tempos, especialmente dadas as controvérsias que atingem as operações da empresa. Schneider chega com o know-how de uma empresa de saúde e com crescimento anual de 23%. É uma incógnita como será sua gestão na empresa e se ele terá carta branca para impor as transformações que desejar, uma vez que é conhecido por fazer aquisições agressivas.

A Nestlé fechou o ano de 2015 com 335.000 funcionários e um faturamento de cerca de US$ 86,76 bi, bem maior que a Fresenius Group, antiga empregadora de Ulf Schneider, que fornece produtos e serviços para o setor de saúde. A pressão é muita, especialmente porque Schneider é o primeiro profissional de fora do quadro da empresa a ocupar o posto desde 1922.

É uma grande aposta para os dois, Schneider e Nestlé e exatamente o que esperamos de um novo ano: grandes mudanças e uma boa dose de ousadia.

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Investimentos, Política
A derrocada da Petrobras
21 de janeiro de 2016 at 16:17 0

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O futuro incerto da Petrobras está cada dia menos promissor, perdendo a confiança dos investidores. E para piorar, ainda tem o lado do valor do petróleo que deixa dúvidas sobre a capacidade deste setor aguentar a baixa forçada, por causa da guerra de preços.

A volta do Irã ao mercado de petróleo, sendo o quarto maior produtor do mundo, coloca um futuro sombrio no setor, de modo geral. A quem interessa o preço do petróleo despencar? Somente aos mega produtores, que têm um custo de produção muito abaixo da média, como a Arábia Saudita e o próprio Irã que além de estar de volta ao mercado, ainda possui uma reserva gigantesca de petróleo e de capital. Nesta situação, pode aguentar um período mais longo desta guerra preços.

O cenário da Petrobras é completamente diferente, pois precisamos de um preço de mercado por volta de $40 o barril, para podermos viabilizar o custo do Capex e a dívida acumulada (que é a maior do mundo corporativo).

Conforme informações da própria empresa, o Pré-Sal poderia ser explorado pelo custo de 8 dólares o barril, mas as dificuldades de financiar o Capex estão se avolumando com os preços do petróleo em queda e o estragulamento financeiro. Com essa situação de mercado complexa, a dificuldade de trazer parceiros para investimento será muito grande.

Parece que a grande solução para Petrobras será a venda de ativos para pagar dívidas, o que é uma pena. No momento atual o mundo dos emergentes sofre com uma crise econômica somada a uma crise de petróleo. Não teremos vida fácil para investimentos, pois comprar ativo está mais atrativo do que tomar risco de performance em project finance no Brasil.

Sinceramente está muito difícil fazer uma análise sobre qual será o futuro da Petrobras, pois a mesma está ficando pequena dentro do contexto corporativo, a exemplo da Eletrobrás que foi perdendo seus ativos e hoje vale 10% a 20% do que já valeu. A Petrobras já está na mesma situação.

Está parecendo que vamos entrar em uma "Era" diferente, a pós Xisto. O preço do Xisto está no nível de 60 dólares, ficando atrativo para a produção. Isso cria mais uma super oferta de produção de energia e por isso os grandes produtores que têm custos muito baixos de extração querem se sobressair aos produtores americanos. Creio que dificilmente consigam, pois cada vez mais a tecnologia vai baratear o custo da produção e assim vai sendo criada uma nova ordem de mercado.

A própria Brasken está transferindo uma planta para o México, em função do custo do Xisto, em detrimento a Coperg. Sem dúvidas que a vida ficará mais difícil para produtores como o Brasil, Venezuela, Rússia e outros que terão de investir mais para extrair mais barato que a planta atual.

O produto interno bruto (GPD) mundial não caiu na mesma proporção que a queda do Barril de Petróleo, fato causado propositalmente pela super oferta energética.

De certa forma esta conjuntura servirá para mostrar a alguns grupos nacionalistas, que sempre alardearam que “o Petróleo é nosso” e superestimaram a importância de ter o controle nas mãos do governo, que além de restringirem o capital estrangeiro quando houve a descoberta do Pré-Sal ou mesmo a fornecedores da Petrobras (que têm de ter no mínimo um % de indústria nacional), em muitos casos ainda fizeram com que a Petrobras pagasse muito mais caro.

Segundo a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustiveis) e do Jornal Valor Economico, “com o barril do petróleo tipo Brent a US$ 51 e o WTI abaixo de US$ 50, diversas operações de xisto deixam de ter viabilidade econômica, afirma o analista Virendra Chauhan, da Energy Aspects. Nas contas dele, um preço de US$ 60 por barril prejudica três das seis mais importantes áreas de produção de xisto nos EUA. Considerando o preço atual do barril na casa dos US$ 50, a maior parte dos produtores fica em situação ruim e, por isso, suscetível a reduzir suas atividades de perfuração, princialmente em áreas periféricas.”

No final tudo se resume em mercado, por mais que não gostemos, pois o preço da matéria prima no mercado de commodities é que vai ditar o destino de cada Companhia do setor, inclusive da Petrobras. E isso tudo vale também para o Trigo, a Soja, o Álcool e assim por diante.

Um fator positivo para a Petrobras é o seu monopólio, que permite que a estatal estipule os preços do mercado interno de combustível. Isso pode ser bom para a petroleira, mas o monopólio é ruim para os consumidores, que não se beneficiam da queda do preço do petróleo.

Possivelmente o melhor dos mundos seria agora a Petrobras somente produzir o que comercializar, mas sabemos que não funciona deste modo. O lado ruim é que não poderemos diminuir a inflação baseando-nos na queda do petróleo, pois o preço é fixado pelo governo que precisa ter resultado na operação. E assim os brasileiros subsidiam a Petrobras, sabiam?

Qual a solução para este imbróglio que o governo se meteu? Precisamos administrar uma solução para reduzir a dívida e não ter de colocar dinheiro em uma empresa que, por décadas, sempre foi muito lucrativa. Capitalização em um momento em que a empresa está nas mínimas históricas não parece muito adequado.

Rolar dívida e cortar investimento além de vender participações de subsidiárias parece ser a receita atual, mas que está longe de ser a solução, pois os mercados poderão continuar a pressionar o preço do petróleo até, quem sabe, 20 dólares o barril. E aí?????

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Bolsa, Juros, Política
Os rumos do Brasil
20 de janeiro de 2016 at 08:29 0

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Todos já sabemos que o Brasil passa por um problema sério com suas commodities, principalmente pela baixa histórica do barril de petróleo e da volatilidade da economia chinesa, responsável pela importação de 50% do nosso minério de ferro. Cada vez mais interessado por economia, muitos brasileiros já se conformaram com as projeções pessimistas para 2016. Não há remédio milagroso, e a melhora vai depender de ajustes certeiros tanto na área financeira quanto na política, que não está ajudando na suavização da crise.

As economias dos países emergentes, em geral, têm sofrido bastante com a queda generalizada dos preços das commodities e a valorização do dólar. Especialmente a Venezuela e o Brasil que, além de terem uma grande parte de sua receita atrelada às exportações de petróleo e minério, ainda passam pelos problemas domésticos – que não são poucos. Países de primeiro mundo também sofrem com esses problemas, e a moeda canadense que normalmente segue a regra do um para um, desvalorizou quase 50%, e hoje são necessários 1,45 dólares canadenses, o CAD, para comprar one dollar bill.

Preocupado com o problema brasileiro mais sentido pelos pais de família, que é a inflação que derrete a renda de famílias e empresas, o Copom fará hoje a sua primeira reunião do ano para definir se sobe a taxa de juro para 14,25%. O resultado da reunião sairá a noite, mas é provável e quase certo que sim, o BC irá manter a taxa ou no máximo subir 0,25%.

Já disse anteriormente que a subida da taxa é uma decisão necessária, mas com resultados pouco garantidos, podendo afetar ainda mais as dívidas com o percentual repassado aos preços. Já em janeiro o IPCA deu um susto na população, nos mostrando as altas nos preços dos itens mais básicos.

Muitos amigos me perguntam sobre a realidade da economia brasileira e as chances de recuperação, mas tudo o que tenho são interrogações. Por mais que os especialistas tentem analisar e prever, no fim das contas ninguém consegue saber muito. Qual a eficácia da política monetária no momento? Qual o impacto de elevação dos juros no controle da inflação, se a percepção é fiscal? Qual o impacto dos juros SELIC no custo dos empréstimos, se os spreads estão exacerbados em função do risco Brasil? Quanto da inflação não está indexada aos contratos e aos indexadores que mantém/reduzem a capacidade dos juros?

Enfim, meus amigos. O negócio é torcer para que quem está no controle saiba o que está fazendo, e trabalhar muito, com muita cautela, porque este ano não será céu de brigadeiro. Isso, ao menos, é uma certeza.

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Bolsa, Câmbio
O câmbio e a China
11 de janeiro de 2016 at 16:15 0

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Dois “circuits breaks” na bolsa chinesa semana passada chamam a atenção, pois no momento o que parece é o que os investidores já temiam: o ajuste chegaria cedo ou tarde. A impressão também é de que uma temporada baixa está apenas no começo.

Sem dúvida o governo chinês vai implementar medidas de caráter preventivo, como injeções de capital para tentar organizar a queda que parece querer se acelerar. Não temos como negar os efeitos colaterais de um período de perda de valor da bolsa chinesa, pela sua importância na economia mundial.

O principal efeito e suas consequências serão nas comoditties, pois o reflexo de um período longo de perdas na China afeta os investimentos chineses que se utilizou bastante das capitalizações de muitas empresas nas diversas áreas da economia, além dos problemas a reboque com os corporates bonds chineses.

De qualquer forma a China tem uma reserva de capital enorme, mas se tornou um mercado extremamente alavancado em equity e crédito corporativo e imobiliário.

Aqui no Brasil, nosso câmbio turbinado pelo ambiente político e econômico que parece não se solucionar tão cedo, poderá ser mais impactado ainda pela variável chinesa - que poderá dar mais um gás na desvalorização da sua moeda como forma de atenuar a queda de consumo e capacidade contínua de manter o soft lending da economia.

A desvalorização do yuan pressiona o preço das comoditties brasileiras, em especial os minérios de ferro e a soja, além de outros na nossa pauta de exportação, pois o país com moeda valorizada tende exportar menos e vice versa. Assim, o preço dos comoditties está em baixa no mundo todo, liderada pelo petróleo que demostra claramente a queda de demanda do consumo mundial, pois o petróleo continua sendo o principal motor de energia mundial.

Neste ponto, acredito que caso os mercados chineses comecem a demonstrar uma desconfiança dos investidores em relação ao futuro, este é um bom motivo para nos preocuparmos como um dos maiores parceiros de nossa pauta de comércio exterior, como também a maioria das economias emergentes que são na sua maior parte dependentes das comoditties.

Enfim, são conjecturas e não previsões. Deixemos para os economistas as projeções e vamos torcer para não estarmos de novo em uma nova onda de desvalorização mundial das moedas, o que poderá aumentar a perda do poder aquisitivo dos países mais vulneráveis. Significa ficar mais pobre. No contraponto, o que pesa positivamente é a impossibilidade de fuga de capital na economia chinesa por parte dos chineses, pois existe uma forte restrição dos investimentos no exterior.

As grandes crises mundiais começaram por perdas em bolsas. Como exemplo, a crise de 1930, que levou a uma grande e longa depressão econômica por mais de uma década. Os modelos de grandes crises se repetem e só mudam a cara: mercado alavancado por leverage de equity e crédito. Resume-se em preservação de patrimônio e foi se repetindo em vários ciclos, no México, na Ásia, o World Trade Center. A crise de 2008 se deu através da quebra da quarta maior instituição financeira, só para lembrar.

Na maioria das vezes,  a motivação é a quase a mesma: desconfiança dos investidores com relação aos preços dos ativos em comparação à capacidade da economia em responder com crescimento necessário.

Se caso a crise no mercado chinês persistir, acredito que novas reavaliações e projeções do dólar começarão a ser feitas ainda este mês e a trégua, que até agora estava à espera de novos fatos internos, poderá reacender o movimento de alta do dólar.

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Política, Tecnologia
Decisão do CADE sobre Uber é vitória do consumidor
15 de dezembro de 2015 at 14:48 1

post_blogdosaulA divulgação de mais um estudo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, de que o Uber não concorre com outros aplicativos de táxis mostra uma tendência de ser favorável à permanência do aplicativo no país. Esta não é a primeira indicação de que o Conselho é favorável neste sentido; em outubro o próprio Cade fez um levantamento apontando que é positivo para o consumidor que haja esta concorrência.

O Cade é uma autarquia vinculada ao Ministério da Justiça e foi criado com a missão de zelar, fomentar e disseminar a cultura da livre concorrência no Brasil. De maneira prática, ele garante que os direitos do consumidor sejam respeitados, atacando o abuso do poder econômico, atuando de maneira eventual sobre situações concretas. Ser reativo, nesse caso, permite uma visão mais ampla sobre a conduta das partes envolvidas e sobre a percepção do consumidor sobre a situação. Ele vem analisando, especialmente, o efeito anticompetitivo dos agentes de mercado, o que gera distorções nos preços e nos serviços.

Sobre o Uber em si, já falei anteriormente: sou favorável não apenas ao serviço, mas ao que ele representa para o mercado. Quando os cidadãos se aliam por um objetivo, no caso a busca por um melhor serviço de transporte, é praticamente impossível o retrocesso. Em um estudo anterior, o Cade afirmou que o Uber não concorre com o sistema de táxis que temos hoje em razão de ser um “sistema superior”.

Nesse último estudo o comparativo foi feito com outros aplicativos semelhantes, mas utilizados pelo sistema de táxis atual, o 99Taxis e o Easy Taxi. Ao focar o estudo nos “concorrentes” do Uber – entre parênteses pois acredito que a concorrência, nesse caso, é mais pela facilidade em se conectar com a empresa do que com o serviço em si – ficou demonstrado ainda uma outra faceta que merece ser levada em consideração pelos opositores do Uber: a capacidade de se reciclar e acompanhar a mudança que a tecnologia e as novas gerações oferecem é essencial para a sobrevivência em um mercado cada vez mais exigente e competitivo. A facilidade no contato, gentileza e uma garrafa d'água são atrativos bem melhores do que a força bruta.

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Política
O cenário político e econômico brasileiro atualmente
16 de novembro de 2015 at 18:31 0

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Para quem não teve a oportunidade de ler a entrevista com Paulo Guedes, na revista Época dessa semana, aconselho que o faça com bastante atenção. Em uma análise bastante realista do cenário político e econômico atual, Guedes analisa a tendência atual onde a política interfere diretamente na economia brasileira. Desde a redemocratização, os economistas que estiveram na posição de interferir e transformar a economia brasileira falharam em aproveitar as oportunidades e, diante de mais uma crise política, finalmente percebemos que há mais em jogo.

Neste momento é preciso ter a coragem de atacar o problema de frente. Cortar os gastos públicos, revisar políticas de juros, readaptar modelos de redistribuição de renda e fomentar o empresariado são alternativas que podem fazer com que a economia do país tenha condições de se fortalecer diante de crises que, todos sabemos, são cíclicas. A história demonstra que se apoiar na recessão para aprovar medidas que desestimulam o investidor não é uma opção viável. Não se sustenta mais esse modelo em que a medida para superar a crise é aumentar a arrecadação, onerando o contribuinte, sem fazer cortes na máquina pública.

Já pelo viés político, é uma surpresa que o PMDB tenha tido a coragem de abordar essa situação. O PSDB, historicamente a oposição ao governo atual, perdeu a chance de se posicionar, o que demonstra que a simbiose entre a política e a economia é maior do que imaginávamos. O PMDB, ao deixar claro seu posicionamento sobre como o poder público deve se posicionar diante desta crise em que atravessamos hoje, abre caminho para, mais uma vez, ser o protagonista das eleições de 2018.

Eu acredito no Brasil. Já vencemos outras crises, muitas ainda piores do que a que atravessamos hoje. Como diria Albert Einstein, no meio da crise, está a oportunidade. Nosso país vive hoje um momento único de poder reestruturar totalmente a base político-econômica sobre a qual fomos construídos. Só nos resta esperar e acreditar que, com a ajuda do Judiciário e do Congresso Nacional, essa restruturação seja o mais ética e beneficie a todos os brasileiros, igualmente.

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Política
Impacto do grau de investimento na nossa vida
3 de setembro de 2015 at 16:16 1
Grau de investimento: Como ele pode mudar sua vida

Grau de investimento: Como ele pode mudar sua vida

Conhecem aquele ditado “cuidado para não apertar a porca demais porque pode espanar”? A realidade é que podemos ficar com cara de bobos se quisermos dar aquela última atarraxada na porca e ela espanar. Isso é exatamente o que está acontecendo dentro da nossa conjuntura política e que, de certa forma, tira a possibilidade de o Executivo dar uma mudança de rumo ao país, pois o pensamento está ainda ligado ao de quem vai se dar bem com um ou outro cenário político. E com a pluripartidária situação do congresso, fica cada vez mais difícil a situação política e econômica. Não está fácil visualizar um acordo e uma solução que possa melhorar o já complexo ambiente econômico, principalmente, com a perspectiva real de perda de Investment Grade. É dessa forma que se consolida um cenário de "perde-perde", pois todo mundo perde.

Já vimos na história batalhas em que todos os exércitos saíram completamente destruídos, pois não houve vencedores e depois, para cada lado, somente restou lamber suas feridas. É isso que estamos acompanhando de um palanque em que os grandes pagadores da conta seremos nós!

A possível perda do grau de investimento nos remete a um cenário bem sombrio, pois a situação mundial já está bastante confusa pelo lado da Ásia, que já vê a sua locomotiva China diminuir o ritmo de crescimento e, com isso, agravando uma situação bem delicada, principalmente porque os mercados de lá são bastante alavancados por empréstimos.

Qual é o principal efeito na perda do selo de investimento? É a credibilidade econômica, a crença de que o país tem condições efetivas de sustentabilidade a longo prazo. Sendo visto, assim, como mais como um país especulativo e de curto prazo.

Ao mesmo tempo, no campo financeiro e real, nós deveremos sentir um refluxo de capitais por parte dos investidores e o aumento dos custos diretos na sustentabilidade da dívida interna, até porque a dívida relação PIB vem aumentando bastante e essa situação se agravaria mais ainda.

Outro ponto será o rebaixamento, quase que geral, dos corporates bonds de empresas brasileiras, deixando o acesso ao capital por estas empresas muito mais penoso e caro na sua rolagem de dívidas.

Enfim, será um grande retrocesso para o país, pois grande parte de investimentos diretos e indiretos da maioria dos investidores estrangeiros fica restrita a movimentações mais especulativas. O pior de tudo isso é a saída de capital dos ativos brasileiros, como Bolsa e títulos em geral, gerando maior pressão nos juros de atratividade e, consequentemente, mais restrição de capital para a indústria e corporações. Isso acontece mesmo internamente, pois os bonds - se pressionados para venda - farão as taxas se abrirem e, na sequência, empurrarão os ativos internos, como debêntures e outros, na mesma direção.

Levamos quase 30 anos para construir as condições necessárias para o Brasil conseguir o Grau de Investimento no mercado internacional e estamos a um passo de perdê-lo. Para que essa possibilidade não se torne uma triste realidade, precisamos passar mensagem aos nossos representantes políticos e executivos a real gravidade deste assunto, e salvar anos de trabalho e esforço de toda a sociedade.

O dólar caminha para R$ 4,00 e pode não parar por aí, com a perda do grau de investimento se materializando em algo real. A velocidade deste ajuste no câmbio desarruma toda a cadeia produtiva do país, pois até para gerarmos produtividade para exportação, máquinas e insumos em geral, necessitamos do mercado de importados.

Vamos manter o espírito altivo e, de alguma forma, concentrar esforços para que pensemos de maneira mais positiva, passando a ideia de que não perdemos esta batalha ainda, pois a perda não será somente de um partido ou de outro, será coletiva e todos seremos impactados de algum modo.

Fiz questão de escrever sobre este assunto, pois vejo que o cidadão comum está mais perdido do que cego em tiroteio: déficit primário, PIB, dívida interna, déficit orçamentário, a hipótese bem real da perda do grau de investimento e uma dezena de outros dados econométricos que fazem uma grande confusão na cabeça da população que não consegue avaliar muito bem o impacto desses dados no dia a dia.

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Investimentos, Política
Saiba o que é investment grade, o famoso grau de investimento
2 de setembro de 2015 at 18:28 0
Saiba o que é investment grade, e o que significa perdê-lo.

Saiba o que é investment grade, e o que significa perdê-lo.

No momento em que o Governo apresenta o orçamento para 2016 com possibilidade de fortes ajustes nas contas públicas, um termo tem chamado a atenção de todos: Grau de Investimento. Grau de Investimento, ou Investment Grade, é uma nota atribuída aos países por agências de classificação de risco e que indicam, grosso modo, a capacidade que os países têm de pagar suas dívidas internas e externas. As principais agências em operação hoje, no mundo, são: Fitch Ratings, Moody's e Standard & Poor's. Elas desenvolveram uma metodologia que avalia a possibilidade que os países têm de saldar as dívidas e oferecer retorno aos investidores. Quanto maior a nota, maior o retorno. O outro extremo seria o grau especulativo, com grandes chances de inadimplência. A agência não olha apenas para os números, mas para todo o contexto – inclusive o político, na hora de decidir a nota. A diminuição da nota retira do Brasil o selo de “bom pagador”, o que faz com que aconteça encurtamento do crédito externo, uma vez que os juros se tornam muito altos e dificulta o levantamento de recursos estrangeiros, além de tornar o país pouco atrativo para investidores de grande porte. As consequências do downgrade no Brasil faz com que percamos bilhões de dólares em investimentos, pois os investidores ficam impedidos de aplicar recursos em países com grau especulativo e a perda de rating das empresas no país as faz perderem capacidade de financiamentos para investir em novos projetos. Grosso modo, investidores emprestam dinheiro aos países, comprando suas dívidas, em troca de taxa de juros. Cada título escolhido possui uma regra diferente. Assim se procede no Brasil com a compra de títulos do tesouro direto: empresta-se dinheiro para receber juros em troca. A perda do investment grade faz os grandes investidores internacionais remanejarem seus dólares para outra economia, que tenha mais garantias. Por exemplo: se há o risco de o Brasil dar calote, eles vão investir nos EUA, Alemanha ou Noruega. O mercado entende que país com melhor nota na escala são melhores pagadores e então podem captar recursos com juros menores. Por sua vez, aqueles de pior nota terão de pagar juros altíssimos aos investidores. Então fica mais caro e difícil para as empresas e pessoas físicas conseguirem créditos e financiamentos. Isso impacta na inflação, pois a alta é repassada nos preços para o consumidor final em diversos segmentos, principalmente os que se utilizam de insumos importados, como indústria, agricultura e saúde (que importa muitos medicamentos e materiais de consumo). Isso diminui o poder de compra de toda a sociedade, causando menos consumo, menos produção e desemprego em todos os setores. Como sabemos, o cenário atual não é positivo ou favorável. O mercado precisa de estabilidade para atrair investimentos que ajudem o Brasil a atravessar esta crise, oferecendo uma economia sólida. É claro que podem ocorrer mudanças repentinas e surpreendentes, mas podemos prever que passaremos um bom tempo em situação difícil.  
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Finanças, Investimentos, Política
A expansão do crédito no Brasil e as consequências
28 de agosto de 2015 at 17:07 0

post_blogdosaulA expansão muito acelerada do crédito no Brasil nos últimos 10 anos, contribuiu para aumentar o consumo pelas famílias brasileiras. Essa expansão alavancou o acesso ao consumo por uma camada da população muito representativa, hoje chamada “Nova Classe Média”.

Demandas para diminuir os déficits habitacional, universitário, de transporte e logística foram responsáveis pelo crescimento do acesso ao crédito no Brasil. Entretanto a estabilidade econômica conquistada nesses anos, razão deste crescimento de consumo, me faz acreditar que fomos muito mais rápidos do que seria suportável e sustentável, obrigando o país a colocar um freio e controlar melhor a disponibilidade do crédito para a população.

A previsibilidade da situação econômica, a inflação e as contas públicas sob controle que foram frutos de uma reformulação da economia brasileira no final dos anos 90, além do estímulo causado pela economia mundial positiva, abriram a possibilidade da expansão do sistema financeiro a partir dos anos 2000.

Neste artigo, vou tratar de analisar a situação do mercado imobiliário. Os bancos trabalharam muito para a expansão do crédito imobiliário e a população de baixa renda teve especial atenção nesse cenário. Nos anos de 2002, 2004 e 2006 foram tomadas medidas que permitiram o crescimento do setor enquanto os juros caíam. A estabilidade econômica das pessoas garantia aos bancos a confiança para alongarem o prazo dos seus empréstimos, facilitando bastante a compra de um imóvel.

Em 2009, o governo lançou o programa MCMV (Minha Casa, Minha Vida), com metas ousadas e deu subsídios às moradias populares que chegavam a 95% do valor do imóvel na faixa de renda mais baixa, para quem aderisse ao programa. Um impulso ainda maior à demanda.

Hoje, pelas restrições fiscais enfrentadas pela União, podemos observar um maior contingenciamento do governo, inclusive o adiamento da fase 3 do programa MCMV.

Recentemente foi aprovado na Câmara dos Deputados um projeto de lei que aumenta a remuneração do FGTS, o que fatalmente aumentará o custo do funding para o segmento e, consequentemente, restringirá a demanda. Essas políticas não foram boas, teremos muitos desafios à frente. Repetindo a história, essa crise afetará a construção civil, diminuindo também as vendas de insumos a níveis insustentáveis. O mais provável é que as incorporadoras financiem seus empreendimentos diretamente aos consumidores e desacelerem novos lançamentos.

Todo gestor de investimentos sabe que corre risco em qualquer transação. É importante estar atento às boas oportunidades dentro de um cenário que parece caótico, pois elas existem. A atenção, o conhecimento da história do mercado financeiro e a disciplina são fundamentais neste cenário. A volatilidade do mercado acionário deve ser acompanhada com cautela, para não cairmos em tentação, sem termos a real avaliação do risco.

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Câmbio, Investimentos, Política
Boom dos imóveis comerciais gera apreensão
18 de agosto de 2015 at 15:25 0
Com alta do dólar, investir em imóveis no Brasil virou uma boa pedida.

Com alta do dólar, investir em imóveis no Brasil virou uma boa pedida

Este foi o título da matéria do The Wall Street Journal de 18 de agosto de 2015, traduzida pelo Valor Econômico e que faz uma síntese da escalada dos preços do metro quadrado nas principais capitais mundiais: NY, Londres, Los Angeles, Berlim e Sidney. O volume de transações financeiras também disparou principalmente nos EUA, onde saltou 36% em comparação com o mesmo período de 2014.

A matéria chama atenção principalmente para o aquecimento dos preços dos imóveis corporativos em função da alta liquidez financeira existente no sistema, como também a baixa remuneração do capital via títulos públicos.

Além disso, cita transações milionárias e bilionárias tanto nos EUA quanto na Europa e nÁsia, dando mostras de como o mercado está pujante, porém relativamente perigoso dependendo da intensidade dos juros americanos que podem trazer uma queda na atratividade ligada a um possível desaquecimento (embora esse não seja um cenário de curto prazo).

Gráfico retirado do www.valoreconomico.com.br

Gráfico retirado do www.valoreconomico.com.br

Sobre o Brasil, a matéria fala sobre como estamos na ponta inversa deste cenário, já que a vacância aumentou acentuadamente e pode até aumentar mais, dado que a atividade econômica não deverá reverter em curto prazo, ou seja, nos próximos dois anos.

Já em outra pequena matéria, do Estadão, encontramos o seguinte título: “Incorporadoras negociam ativos com fundos” e o subtítulo "Venda pode trazer fôlego financeiro às empresas incorporadoras; dólar valorizado torna imóveis baratos para investidor estrangeiro".

No meu artigo "Oportunidades de investimento no Brasil durante a crise" classifiquei a área de real estate como prioridade de oportunidade, principalmente para quem tem recursos em dólar. Também citei a possibilidade de repatriação pela anistia, que está para ser votada na Câmara. Acho até que alguns  investidores brasileiros, que estão desiludidos com o Brasil, podem repensar e reavaliar se vale a pena entrar em um mercado bastante aquecido como o americano e deixar de usar a Bala de Prata, que é a oportunidade do capital em um momento que o mercado imobiliário passa por dificuldades - principalmente por escassez  de crédito por causa do recuo da Caixa Econômica Federal.

As duas matérias (a do Valor e a do Estadão) estão bastante interessantes e ilustrativas. Por isso, acho que deveriam ser leituras obrigatórias.

Entre esses ganhos está a diminuição da corrupção com o advento da Operação Lava a Jato, que será um marco na nossa história, pois o país deixará de ser para poucos, onde só ganha dinheiro quem está no esquema da corrupção. A Lava a Jato está, consistentemente, mostrando que o Brasil mudou e está mudando para melhor.

Há ainda ganhos com o equilíbrio de poderes entre as principais instituições, exercitando a democracia, e politização da população. Nossos jovens passaram a acompanhar e se interessar pela política e a entender que o processo de mudança se faz pelo voto (não devemos eleger pessoas despreparadas e desqualificadas). As mobilizações de todas as classes nas passeatas de protesto, de forma organizada, tem ensinado e exercitado a convivência com a diferença de opiniões.

Finalmente há o ganho relacionado com o fato de o Executivo, a Câmara e o Senado estarem indo ao encontro da demanda das reformas estruturais e fiscais para que possamos sair deste enrosco. Em tempos normais, elestenderiam a deixar tudo como está e cuidar somente dos interesses partidários e com caráter eleitoreiro.

Na realidade, se não tivéssemos uma crise de problemas fiscais e econômicos, talvez ainda estivéssemos no país das maravilhas, pensando que éramos ricos e sérios.

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